Thursday, August 02, 2012

de saudades...

Sinto saudades de escrever aqui.
Ou saudades do tempo em que escrevia aqui e das razões porque o Blogui nasceu. Tudo passa demasiado depressa e por vezes esquecemo-nos de saborear as coisas porque na realidade o tempo passa demasiado depressa e o sabor das coisas não  chega a tocar todo o palato.
a menina hoje tem 10 anos. eu 42 ainda frescos frescos. tao frescos que não me recordo ainda que os tenho, logo agora que estava quase habituada a dizer 41. para alem do cliche de se dizer isto, a idade efectivamente não significa nada.
Sinto saudades de escrever aqui e penso que terei de cá voltar.

Tuesday, April 08, 2008

só para vos dizer que...





quando não estou por aqui, estou aqui. Façam favor de me visitar.
-

Tuesday, March 25, 2008

PARABÉNS, BÉBÉ!

Já são 6!


6!

Há um ano atrás houve um bolo em azul que fazia de fundo do mar e nos pintou as línguas, os guardanapos, as toalhas da casa de banho e os cortinados.

Vieram as meninas da Dona Amélia, e a Diva, e dançou-se e comeu-se em pratos e copos de boneca em frente à ventoinha.

À noite tivemos o Xico da Cabra, o Abade e a "rita oh bonita hira". Agora, a Rita está no Nepal a sentir-se demasiado mulher, o Abade é quase mesmo mesmo do clero, e o Xico da Cabra desapareceu em combate.



Há dois anos atrás estávamos a acabar de rechegar a Timor, e a Therese fez um bolo borboleta à luz de vela que foi um sucesso no colégio das Ursulinas.

Era em rosa!

Claro...



Há 3 anos já não te lembras de nada. Mas fizeste, como ontem uma caça aos ovos com meninas e meninos da tua idade. Bebeste água da torneira e o aquecimento esteve ligeiramente ligado. Vestiste-te de rosa e pintáste os olhos e outras meninas vestiram-se de rosa e chegaram também de olhos pintados. Tinham coroas das Winx que são meninas feiticeiras independentes e fortes com cabelos de tons variados, e que juntas vencem tudo!

E senti-te muito muito feliz.

E faz-me pensar se tenho o direito de te arrastar para um mundo enorme onde eu me sinto tão feliz, quando a tua felicidade é tão ruidosa e rosa neste outro tão mais pequeno onde me sinto a sufocar a cada dia que passa...



Sinto falta da minha morena pequenina que eu transportava ao colo segurando-a com um só braço.

Fascino-me todos os dias com esta morena desdentada que tem opinião sobre tudo, que passa o inverno de ranho permanente, que se besunta em baton antes de sair de casa, que escolhe sonhos antes de dormir, que sonha com sapatos altos preferencialmente em pástico e que tem como desejo maior um dia ter uma franja.



Parabéns, minha querida.


6!

Wednesday, January 02, 2008

UMA PAUSA POR UNS TEMPOS.

"A água chia no púcaro que elevo à boca
«É um som fresco» diz-me quem não está a bebê-la.
Sorrio. O som é só de chiar.
Bebo a água sem ouvir nada com a minha garganta."
Caeiro
Até breve.

Monday, December 31, 2007

..e

2007 foi um ano de que não vou ter saudades.


não me recordo de nada que quisesse reviver - perdi tragicamente uma amiga, saúde, rebolei dentro de um automóvel com a minha filha, assaltos, decisões, partidas, regressos e regrets.

nenhuma das decisões tomadas tenho a certeza de ter sido a mais certa. precisei de alterar um percurso sem ter tipo tempo de lhe procurar uma direcção. cometi erros antigos que sei que voltarei a repetir.
2007 foi uma cáca tão grande que me faz agarrar apenas a duas certezas:


  • que tudo muda mesmo a surda muda;


  • que tudo passa mesmo a uva passa.

Wednesday, December 26, 2007

Super Timor

POIS...

este post sou eu a mandar-vos beijos.
beijos de Natal.

e a desejar-vos as coisas que se desejam a toda a gente nesta época.

mas as minhas são assim mesmo do coração.
beijos e coisas do coração.


ás vezes penso que por tanto as querer sentir, elas acabam por passar sem que eu as consiga viver.

assim como o Natal.

mas deixo-vos os beijos e as coisas do coração.

e aquilo da Paz na Terra aos Homens de boa-vontade,

porque nem o Natal é todos os dias, nem o azevinho, por aqui, vermelha em Dezembro...

Wednesday, December 19, 2007

HÁ...


botijas novas no great craft disaster.

NATAL NA ESCOLA

Festa de Natal na escola.
A audiência constituida por pais entusiastas e participativos e os mais preguiçosos e cínicos.
Os primeiros, vestem-se com roupinhas de carnaval e fazem palhaçadas e teatrinhos ao som do bolero de ravel e bonecas menina do outro lado do oceano muito à anos 80, felizmente nenhum cantou só houve playback. Um misto entre a necessidade de se evidenciarem e o genuino desejo de enriquecer a festa e entreter os meninos.
Os cínicos e preguiçosos - nos quais me enquadro - ficam sentados a morrer de frio e a evocar o nome de Deus em vão, assim em silêncio. Peçam-me para varrer o palco, para limpar as sanitas com uma escova de dentes, para pagar o lanche a todos os meninos, para lhes coser as roupas, para fazer bolos, para para para.... mas não me ponham à frente de publico nenhum.
No palco vão desfilando os meninos e volta o playback. As crianças fazem gestos. As auxiliares passeiam-se no palco a fingir que não há ninguém a olhar para elas e vão colocando os meninos nos sítios onde deveriam estar. Uma mãe traz os filhos e ensina a dizer feliz natal em holandês. Achei giro! As crianças ficam sempre com um ar inteligentissimo a falar estrangeiro. A sério. Tenho imenso respeito por qualquer criança que fale holandês. Aquilo é um verdadeiro exercício vocal!
Depois chegou a sala 5.
A sala 5 estava chiquérrima toda vestida de jeans e vermelho.
A sala 5 cantou sem música e incluiu velas na sua apresentação sem que os meninos corressem qualquer perigo.
A sala 5 fez um segundo número com os meninos a marcharem muito divertidos e concentrados. Havia uma miuda da sala 5 que marchava muito melhor que os outros e cantava muito afinada.
A sala 5 era a sala da minha filha!

Thursday, December 06, 2007

ST NICHOLAS


o biscoito - check


o cházinho - check


a carta cheia de promessas e autoavaliações - check


as velas - check


a bota - check


Sunday, December 02, 2007

UR ANUS

Christmas On Uranus….., Would be very-very cold……, There’s no global warming there yet……, And the search is on for gold….., With an atmosphere without oxygen….., There’s no Christmas trees……, Cause everything on the planet……, Is in a super deep freeze….., Christmas On Uranus….., Really would amaze us….., Cause Santa and his reindeer……, All would be denied……, And quickly die from breathing……, The lethal ammonium hydroxide
….Trade Martin,2007

Saturday, December 01, 2007

SOMBRA

A menina grita e corro a saber.

levo tempo a descobrir porque o choro é interrompido pela luta para conseguir respirar.


penso que viu qualquer coisa que a assustou


até descobrir uma unha de um dedo apanhado pela porta, arrancada pela raiz, coberta de sangue, fazendo-me pensar que o dedo não estaria completo.


saiba-se que nos centros de saúde - onde o nível hierárquico dos funcionários é inversamente proporcional à altura e ruído produzido pelos saltos dos seus sapatos, não há médicos em dia de greve


e que se viaja até à cidade mais próxima e se é atendida pela tia


saiba-se que esta mãe não está preparada para estas situações e que ao ver o dedo da filha, o instinto não foi abraçá-la - foi deitar-se no chão enrolada no próprio corpo e chorar


não o fez


mas quis fazê-lo

Thursday, November 29, 2007

DA FELICIDADE


Um gato adulto viu um gatinho a correr atrás da sua própria cauda e perguntou-lhe:

-Porque razão andas a correr atrás da tua própria cauda?

O gatinho responde-lhe:

-Aprendi que o melhor que pode acontecer a um gato é a felicidade. E a felicidade é a minha cauda. Por isso ando atrás dela. Quando a apanhar serei feliz!

Diz-lhe então o gato mais velho:

-Olha, eu também prestei atenção a essas coisas do universo. Também eu julguei que a felicidade estava na minha cauda. Mas um dia reparei que sempre que ando atrás dela ela foge-me, e quando vou à minha vida, ela parece seguir-me para onde quer que vá...


(Wayne Dyer nas Zonas Erróneas)

Monday, November 26, 2007

VARICELÊS



Pegue-se na criança, dispa-se a criança e mergulhe-se em amido de milho.

Tradução: encha a banheira de água morna, misture-lhe farinha Maizena e dê-se banho de imersão ao variceloso. Para intensificar o efeito, polvilhe o variceloso com a farinha, qual forma antes de ir para o forno.

Resultados: adeus comichão olá secagem de bolhas.

PS: Ah e Coisas novas aqui!

Thursday, November 22, 2007

GLU GLU GLU UPS!


'Eat Ham' Turkey
Originally uploaded by tofuda03
um dia triste para o peru americano...

Wednesday, November 21, 2007

VARICELANDO...

Enquanto a chuva cai e o vento sopra e as folhas dançam e o frio chega, a menina coça o corpo coberto de bolhas, bochechas vermelhas de febre e repete baixinho:


-Não é justo, não é justo...



Demorou apenas 5 anos para a menina aprender que nem tudo o que a vida nos oferece é bem vindo, que nem tudo o que é bem vindo nos acontece e quando o tempo muda, a luz falta, quer estejamos aqui ou no outro lado do mundo...

Thursday, November 15, 2007

SÓ PARA AVISAR

Coisas novas aqui...

Labels:

Tuesday, November 13, 2007

CRAFT, SIM, SIM, ORA!




Ora então, sim sim fui eu que fiz. E para não continuar a receber emails chocados dos que me julgam incapaz de fazer com as mãos algo mais complexo do que um nó cego, a partir de agora as aventuras das manualidades vão passar para aqui.


The Great Craft Disaster é o meu label!


Porquê?


Porque é isso mesmo!!!

Thursday, November 08, 2007

YOU GOT MAIL!

Do Burkina Faso aqui para casa, pelas mãos de fada da Vera



Isto de receber prendas, sabe muito bem!




Obrigada, Vera!

Saturday, November 03, 2007

THE RAT

Ele salta da máquina de costura e corre para o jardim. Sente o sol na cara e enche os pulmões de ar pela primeira vez.


ouve os sussurros do vento junto ás orelhas, enquanto desliza suavemente.

e gosta de tudo.

Decide que nunca mais voltará a ser pano...

THE BIG ESCAPE

Sentindo no ar o cheiro a Natal, eles assustaram-se prevendo o que iria acontecer, correram a esconder-se e vestiram-se de outras cores, para não serem reconhecidos.

Um dia treparam ao ponto mais alto do jardim e o arco iris veio, soltou um raio e levou-os para longe longe longe...

Para um sitio livre de bocas famintas de sabores a gengibre...

Sunday, October 28, 2007

A MENINA ESTICA...


a mãezinha alarga...

Friday, October 26, 2007

WIP WIP WIP WIP

a intenção é muito boa; reutilizar jeans.

sim, não é reciclar jeans. é importante aprender a diferença entre reciclar e reutilizar. a teoria dos 3 erres.


eu poderia aproveitar esta oportunidade para explicá-la, iluminando assim os espíritos mais distraidos. O problema é que não me consigo lembrar para que serve o ultimo erre, e a esta hora não me apetece googlar.


a foto que ilustra este post rpresenta um bem intencionado esforço de construção de um quilt. aos poucos fui-me apercebendo que fazê-lo pequenino não seria de grande utilidade. para bébé não seria muito acertado porque se tornaria pesado e assim como assim, aquelas calças taparam o rabo de gente de quem eu totalmente desconheço os habitos de higiene. então a coisa foi crescendo para poder cobrir uma cama de solteiro - gosto desta ideia de uma cama poder definir o estado civil do proprietário. uma king size so deveria poder ser comprada por aguem que ateste não só ser casado, mas possuir estatuto nobiliarquico. uma de corpo e meio por alguem com excesso de peso e por aí adiante...este post não faz sentido e o tema é desinteressante, mas quem passa o dia em casa não tem muito para contar. e o complexo de culpa de não escrever nada ha uma serie de tempo estava a crescer. e agora vou ter que tirar aqueles quadradinhos todos do chão...

Monday, October 15, 2007

PING...

Bloggers Unite - Blog Action Day

Uma torneira mal fechada, perdendo Uma gota por Segundo, gasta 46litros de água por dia.

Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping Ping Ping ping ping ping

Apenas 1% da água existente no planeta é doce.

Esse 1% é partilhado por 6 biliões de pessoas…

Thursday, October 11, 2007

NOTE TO SELF

Quando subitamente se perde contacto visual com uma filha numa loja de pronto-a vestir (isto em Francês ficaria mais giro), antes de entrar em pânico, verificar a montra - não esteja ela estática entre os manequins a fingir que é um deles.

Retirá-la depois, fingindo que tudo aquilo é muito natural, mesmo que ela mantenha o corpo rígido e os braços na mesma posição...

Thursday, October 04, 2007

SOFT CELL

A minha filha nasceu com dois anos – apesar de eu não ser uma elefanta – tendo por isso escapado ao processo de colar auscultadores à barriga para aprender a gostar de música que eu nunca ouviria no meu estado normal.

Tenho pouca paciência para os clássicos, apesar de somar um total de 8 anos de estudos de solfejo; assim com a mãozinha para baixo e para o lado e para cima a ler colcheias e fusas. É lógico que há momentos em que preciso de os ouvir. Mas têm que ser violinos. Vivaldi é por norma o sacrificado.

Confesso que nunca assisti a uma ópera completa ao vivo. Mas já dancei com os Balantas. Não sei uma única área by heart. mas cantei Gracias a la Vida com um grupo da terra da Violeta Parra.

Ao ler os blogs das outras mães sinto uma culpa terrível por não “cultivar” a minha filha! Aos 3 anos ela adormecia com uma sequência de 3 músicos: Nick Cave (Into my Arms), L. Reed e o David Bowie e mais uma série deles a cantar há uma série de anos o Perfect Day, e a Bebe a cantar o Malo.
O tempo passou, e não houve propriamente um processo de sofisticação. Aos 5 anos ela gosta de Joy Division, In the Nursery e Peter Murphy e eu porque tento evitar que venham cá a casa as Senhoras da Protecção à Criança, nunca mas nunca, seja ceguinha, a deixei ouvir The Cure, ou mesmo Smith.

Num esforço que adivinho inglório, comprei uma colecção de óperas mais susceptíveis de atrair uma criança, em versão marioneta. Em alemão, claro, para a poder chantagear em relação a rejeitar a língua da tia. Mas a verdade é que o sonho confessado esta semana é que quer ir a casa da Avril Lavigne cantar com ela o Don’t tell me. Mas tem que ser assim como no clip - a desarrumar o quarto.

Como todo o adulto responsável, considero que não tenho qualquer culpa disto. A culpa é da minha mãe que ao dar-me à luz em 1970, condenou-me a uma adolescência em plenos anos 80.

Sunday, September 30, 2007

BLUE BUTTERFLY

Agostinho da Silva disse-me um dia que a solidariedade era uma forma moderna de expressão de egoísmo. Ajudamos o outro pela satisfação que isso nos trás e não necessariamente pelo impacto causado na vida do outro.

Quanto do amor é feito de egoísmo?
Quando do amor é feito do que nos causa conforto?
Balzac, o nosso malamute, morreu ontem depois de meses sem ninguem ter coragem de o mandar abater. E mesmo na última noite e na última manhã, quando ele gemia e se contorcia com dôr, não havia coragem para fazer o telefonema.

Ajudá-lo a morrer seria poupar-lhe sofrimento. Mantê-lo vivo, era dar-lhe a dignidade de o deixar partir quando a hora dele realmente chegasse.

Mas seria isso mesmo? Ou não teremos inconscientemente considerado que seria maior o nosso sofrimento ao ter que lidar com a morte dele? Ou não quisemos nós inconscientemente poupar-nos à responsabilidade de terminar uma vida e à dôr que vem daí. Ou não quisemos nós pensar que aquilo poderia passar e ele qual lázaro levantar-se dos mortos. Fomos cobardes ou amávamo-lo demasiado?

Poupar o sofrimento é um gesto de amor? Manter o que amamos o maior tempo possivel junto de nós é um gesto de amor dirigido ao outro ou a nós próprios?

Friday, September 28, 2007

NESTING

O mais difícil quando se regressa a “casa” é a perda de um espaço próprio.
Com a perda de um espaço próprio vem a perda da expressão da identidade. E daí surge uma tristeza que pode assumir nomes de teor mais científico.
Porque um espaço revela cada pedaço do que nós somos, e relembra-nos isso mesmo. A casa a que aprendemos a chamar casa deixa de o ser quando crescemos e saímos dela e passa a ser a casa deles, onde eventualmente ainda restará um quarto intacto ou não, com memórias boas ou más conforme a capacidade que cada um teve para lidar com a adolescência.

Lembro-me de cada detalhe das (minhas) casas onde vivi. Da forma como a luz incidia nesta ou naquela janela. De qual o canto ou a cadeira que escolhia para ler, ou para beber, ou para conversar, ou para usar o telefone.

De que cor eram as chávenas que usava para o chá, qual era o prato que normalmente fazia quando recebia amigos. Que flores tinha nos vasos ou no jardim. Que animal adormecia enroscado no meu colo ou nos meus pés. Quais eram os cheiros.
A de Alfama cheirava-me a canela e xixi de cão ainda a ser treinado. A da Alameda a blueberry e torradas. A de Moçambique a côco acabado de ralar e cera do chão amarela com lustro puxado à mão. A de Dili ao sândalo entremeado nas cortinas. A de Baucau a maçãs…
E em todas elas havia uma coisa em comum. A sensação de bem-estar que me invadia ao entrar, independentemente do nível de pó ou louça suja acumulada. E sinto que não consigo viver sem isso

Sunday, September 23, 2007

DEPOIS DE MILHÕES DE ANOS DE EVOLUÇÃO... WORTEN!!!

O spot é animado!
Uma sequência de jovens sorridentes de polo da empresa.
WORTEN.
A ideia é mostrar que todos os colaboradores (agora já não há empregados) possuem uma capacidade que os torna incriveis e fundamentais no perfeito funcionamento da empresa.
O Pedro é super rápido.
O Rui tem uma memória incrivel.
O Diogo sabe tudo de música (acho que estou a trocar os nomes todos!)
O não sei quantos de tv.
Também há meninas.
Uma é super simpática.
A outra super arrumada...

public.relations@modelocontinente.pt acho que vou ter que lhes dizer onde eles poderiam enfiar o spot. Naquele outro spot, claro! Querem ajudar-me?

Tuesday, September 18, 2007

MISS CAPULANA


Thursday, September 13, 2007

IF ONLY

Sempre me espantou a capacidade do ser humano para magoar.
Sempre me espantou a criatividade do ser humano para magoar e o prazer estranho que retira disso.

Mas o que mais me espanta ainda é a capacidade que o ser humano possui para o fazer com indiferença, fazendo doer com total leviandade; por não medir o impacto das palavras ou temas na pessoa que os recebe.
E maior do que a dor que se sente quando nos magoam de uma forma programada, é a dor que se sente quando nos magoam com indiferença. Quando não há lugar para um sentido protector, quando não se sente necessidade de colocar algodão debaixo dos nossos pés. Ou então de não colocar lá mais nada, mas deixar-nos seguir a nossa marcha com a paz dos que querem estar na vida em tranquilidade.

Apenas isso. Tranquilidade.

Wednesday, September 12, 2007

PRIORIDADES...


Há uns anos atrás Portugal, solidário com Timor, indignou-se com João Paulo II que ao aterrar em Dili, vindo da Indonésia, não beijou o solo Timorense, reconhecendo implicitamente a autoridade de um país sobre o outro.


Hoje chegou o Dalai Lama.
Sem honras.


Todos os dias chegam novos produtos chineses ao mercado português.
Prioridades...

Tuesday, September 11, 2007

SETEMBRO, 11

Há 6 anos, antes de sair de casa ali entre a Alameda e o Areeiro, vi um avião a embater numa das Torres e achei triste dramático e irreal, desliguei a TV, peguei nas malas e fui para o aeroporto apanhar o avião para Londres e depois para Sidney e depois para Darwin e depois para Dili. Era na altura uma viagem em direcção à recuperação da sanidade, sem nunca sonhar ou imaginar o fim que iria ter - muito feliz, poderia dizer agora! Fiquei quase 3h dentro do avião sem perceber muito bem o impacto das imagens que deixei no monitor da tv, lá em casa, onde tinha ficado também uma outra vida para trás sem que eu tivesse noção disso ou mesmo oportunidade de me despedir dela. 1,5h depois um Russo alcoolizado é retirado do lugar atrás do meu e arrastado até à porta do avião por dois policias enquanto com voz enrolada ía dizendo"yeah I'm a terrorist,I´m a fucking terrorist". E houve gente que desistiu e saiu. E eu pensei fazer o mesmo porque há num limite para os amendoins salgados que se podem comer enquanto se espera. Mas o piloto convenceu-me a ficar.
E lá se foi para Londres.
Londres era o caos. Com todos os vôos atrasados e todas as bagagens, sacos, saquinhos saquetas a serem revistados. Lembro-me do Paquistanês de turbante na cabeça que me revistou o saquinho com aquelas coisas que as meninas usam em dias especiais do mês e de eu lhe dizer que pronto, aquilo era um bocado embaroçoso e ele reponder que não poderia ser mais do que para ele e senti-o ruborizado por trás das barbas. Mais tarde vi-o a conduzir o autocarro que nos levou ao avião. Acho que toda a gente naquele aeroporto fez um pouco de tudo naquele dia.

E lá se foi para Sidney. Mais de 5 horas de atraso.
E em Sidney as ligações perdidas e as malas também. Recebe-se um estojozinho com um penso higiénico, 3 toucas de banho, uma escova de dentes, uns calções e uma tshirt brancas da Quantas e $100 dolares australianos que na realidade parecem dinheiro de brincar porque têm pássaros e cores e zonas transparentes. E porque não querem mais despesas para compensar vôos perdidos, enfiam-nos em aviões em passo de corrida e subitamente vejo-me a caminho de um destino que não era o meu com um jornal debaixo do braço, onde ha fotos de corpos mutilados e edificios destruidos e sentada no chão em Alice Springs, com um aborigene descalço a caminhar à minha frente - que eu penso que é pago para dar um ar exótico ás instalações - descubro que o mundo mudou enquanto eu voava em classe turistica.

Foram quase duas semanas, se não me engano, em que eu e mais duas pessoas, vestimos diariamente todos os dias - como se diz na RTP, os calções brancos e a tshirt da Quantas, fazendo-nos parecer membros de uma seita desportista. Depois chegaram as malas e toda a minha roupa tingiu por causa da humidade. A T-shirt perdura e livrei-me dela simbolicamente antes de vir de Timor em Julho.
O terror também perdura. E depois de Bali, e de Madrid e de Londres, sabemos que estamos frageis e expostos em qualquer local do mundo. Mas dessa noção de fragilidade tem que nascer qualquer coisa. Mas a única coisa que nasceu foi um desejo supostamente justificado de manipulação, ingerência e total desrespeito por direitos básicos.
E isto é muito mais incómodo do que viajar em turistica enquanto o mundo muda.


TAMBÉM TU, BRUTUS?!

A menina do lado sou eu, com a idade da minha filha.
Acho que o cabelo deve ter sido seco pelo meu pai, acho que era sempre ele que o fazia e punha-me aquele ganchinho de lado. O vestido era de um tecido cru e com o tempo começou a apertar-me na barriga e a limitar-me o movimento dos braços, mas eu gostava muito dele e tenho-lhe memórias de festas associadas. Acho que toda a gente tem um vestido assim; daqueles que se toca no tecido e se sentem coisas boas apesar de as não recordarmos com detalhe.
A foto é de um casamento, claro. Só nessas fotos se fica assim hirto a olhar para a frente meio-assustada. E recordo-me que era de uma amiga da minha mãe, também professora, que não era daqui. Era a única crescida que eu conhecia que tinha um namorado e eu achava que ele era também meu namorado porque supunha eu que as pessoas tinham cada uma apenas uma função. E no dia do casamento, seguindo, se não me engano, uma tradição da terra, eles caminharam pelas ruas com o cortejo atrás e eu fui assim à frente de mão dada com eles, estragando-lhe todas as fotos, mas achando que, pronto, ele deveria caminhar com as duas namoradas.
Ela era muito bonita e usava o garfo de uma maneira especial como se tivesse que rir sempre antes de cada garfada.
Hoje tropecei na foto. Tropecei literalmente na foto, porque estava no chão na confusão a que eu chamo quarto. E olhei para a foto da menina que eu fui e que tem a idade da minha filha e pensei no que diria ela de mim se me conhecesse, com o meu garfo na mão, com o meu vestido de casamento, a rir-me à mesa. E achei que ela não iria olhar para cima com os olhos castanhos achinesados e desejar ser como eu quando fosse crescida. E sinto que a desapontei. Dei-lhe excesso de peso e hipertensão, uma franja que não queria e o cabelo pintado de preto por engano. Dei-lhe o Elia Kazan como realizador preferido e lágrimas a ver o Esplendor na Relva, de cada vez, como se fosse a primeira. Dei-lhe 5 anos de ensino superior para nada, um mestrado inacabado, doenças tropicais. Dei-lhe um gosto por causas perdidas e o horror à confrontação. Não lhe dei casa própria, nem carro próprio e ás vezes nem amor próprio e sinto-me culpada por isso. Dei-lhe um gosto pelo sarcasmo e pela ironia e disso não me arrependo porque esse é o truque de passar pela vida, conhecendo-a e aceitando-a sem a aceitar. Dei-lhe o gosto pela comida condimentada com especiarias, colorida com especiarias e perfumada com especiarias. E o vício do chá e das pilhas de livros. E mais nada.

O que não deixa de ser mau, porque a menina da foto ao lado queria ser cabeleireira...

Wednesday, August 29, 2007

GUI E DIOGO - O REENCONTRO




SEM TEMPO PARA O ADEUS

Ela chama-se Carmen com um sobrenome complicado que nunca decorei mas que sei copiar. Paraschiv. Carmen Paraschiv. Conhecêmo-nos em Timor, claro! Amiga de amigos. O conhecido grupo de Leste que vivia no City Cafe. Encontrei-a à entrada do avião em Bali quando foi do regresso com a Gui. Ela estava com aquele futuro ex-namorado Espanhol, que por muito que me esforce nunca me recordo do nome, e que é uma daquelas pessoas que se vê que é boa gente assim a olho nú, e que tem um sorriso simpático e trata a Gui por princesa e faz sempre aquele ar que as mães gostam em que se finge estupefacção pelo nivel de beleza que a filha está a atingir. Ela é muito alta e tem um corpinho muito perfeito e muito desenhado num rosto muito simples. E vimo-nos muitas vezes, claro, quando eu trabalhava na UNMISET e ela também. Na altura muito feliz por se ter livrado do contrato de UNV e passado a SSA - a abertura do caminho para a liberdade... Mas apesar de todas as vezes que nos cruzámos, a imagem que me ficou sempre associada ao nome, foi a dela a dançar com uma saia jeans que usava repetidamente aos sábados à noite no One More Bar. Assim muito bonita e segura de si. Aquela auto-confiança que corre nas veias das mulheres de Leste. Que é uma espécie de gene.
Hoje soube que morreu na segunda, no Benim. O corpo já está em Paris. Segue para a Roménia acompanhado.
Eles dizem no email "the remains". E eu fico sem saber se é porque é assim que se fala bom Inglês, ou se de facto lá não está tudo. Mas de facto não, esta será a palavra certa, porque algures em África, algures no Benim, num carro, a caminho do casamento desapareceu o espírito da Carmen, a romena de saia jeans que dançava aos sábados no one more bar altiva e sensual de rosto discreto. E áquela caixa, coberta com a bandeira azul, falta-lhe isso.

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Quem desejar partilhar com a familia da Carmen este momento, pode enviar um email para a Nicoleta (verestiuc at un.org). Ela compactará todas as mensagens num livro, que será entregue à familia

Friday, August 24, 2007

DOROTHY IN RED SHOES

Gosto de ti, Margarida. Amo-te, filha.
Acho-te perfeita em cada asneira que fazes, em cada boneco fora do sitio, em cada puzzle com peças perdidas, em cada sopa entornada, em cada pedido de gelado repetido à exaustão.
Gosto do teu cabelo sempre fora do sitio tão diferente do das meninas dos catálogos, da tua pele morena que fica quase azul assim por uns instantes nos ombros, ao fim de um dia de praia.
Gosto dos teus desenhos de coqueiros que te irão fazer parecer lamentavelmente exótica ao lado das arvores redondas dos outros meninos das escolas daqui.

Gosto de ti, Margarida.
Amo-te, filha.
E prometo-te que nunca serei a tua melhor amiga.
Quero-me assim, tua mãe.
E se tiveres pensamentos que são só teus e não os quiseres dividir, não me farás triste.
E se tiveres segredos que são só teus e não os quiseres contar, não me farás triste.
Mas se tiveres medos e se tiveres derrotas e as esconderes de mim, se tiveres lágrimas e as limpares antes que eu chegue, se deixares de gostar de noodles e do cheiro a café e de tomatinhos cherry, se trocares os banhos de imersão pelos duches e eu não me aperceber, vou saber que não te disse "Gosto de ti Margarida, Amo-te filha, acho-te perfeita em cada asneira que fazes" vezes suficientes. E nesse dia saberei que te perdi.

Monday, August 13, 2007

PORQUE TODOS OS DEUSES SÂO GRANDES

Ela nunca percebeu, de cada vez que visitávamos Bali, ou passeávamos num aeroporto, porque haviam senhoras com lenços na cabeça tão embrulhadinhos e casacos e luvas se não estava frio.
Desejando eu que ela cresça dentro do possível num ambiente multicultural, não achei correcto introduzir-lhe a temática falando-lhe em direitos das mulheres, opressão, obrigatoriedades. Porque para todos os efeitos e independentemente da minha opinião sobre assunto, há mulheres que usam o lenço com orgulho, que se passeiam de burqa, chador, niquab, abaya, jilibab, khimar, sem que isso lhes perturbe o sentido de serem mulheres.

Então comprei-lhe uma Fulla. Uma Fulla básica de hijab verde claro e saia comprida em tom creme, justa. A Fulla é uma espécie de Barbie Muçulmana. Pretende aumentar a autoestima das meninas Islâmicas e fazê-las aceitar com mais naturalidade o uso do véu. A compra da Fulla foi seguida de dia e meio de vergonha na Indonésia ao passear-me ao lado de uma criança que apontava com euforia cada senhora que passava gritando: “Mamã, Muçulmana, Muçulmana”. A Fulla serviu para lhe fazer a primeira introdução ao mundo da diversidade religiosa. Onde não existem religiões melhores, nem mais certas, onde cada um deveria procurar a divindade da forma que lhe traz mais conforto, e menos angústia, e deixar todos os outros em paz, e vivê-la no silêncio que continua ainda hoje a ser uma das melhores formas de comunicação neste tipo de discussões.

A Fulla já foi abandonada. O hijab dá demasiado trabalho a colocar.

Mas numa tentativa de aprender a pôr a pobre da boneca com um ar decente, descobri um novo mundo que me resolveu o problema das prendas de aniversário para os filhos dos amigos Muçulmanos!

Monday, July 30, 2007

"IF NOT NOW,WHEN?"

Os últimos dias em Timor não foram fáceis.
Uma procissão de gente passou pela casa deixando-nos Tais, fotos, cartas... Mas de entre tudo que nos foi carinhosamente oferecido e que agradecemos com o embaraço típico de quem não sabe como retribuir, o que mais nos enterneceu foi o CD que o Pd. Tomás nos gravou, 100% personalizado e o bolo de caramelo na cesta de plástico cor de rosa da D.Severina.

A D.Severina, que limpa o escritório, que redispõe os móveis de 3 em 3 dias, que perfuma a minha sala com repelente corporal para insectos, que me espalha pó de cartilagem de Teki nos meus gânglios inflamados, que me faz chá com muito açúcar, que me fez religiosamente kumo depois do acidente, e que todas as manhãs junta as mãos inclina a cabeça e diz "bommmmm dia". A D. Severina que brinca com a G. na sala de reuniões, sentada no chão rodeada de Legos e constrói castelos sem nunca ter visto nenhum, que usa o cabelo comprido preso atrás com os ganchos e se veste bonita para ir para a missa e que passou discreta pela minha vida durante ano e meio até ao dia em que dobra um pequeno Tais sob o prato do bolo, coloca-o na cesta cor de rosa e o deixa la em casa. E ao abrir o cesto, no meio do caos da minha casa, com malas abertas e caixotes meio fechados, com uma filha com febre e um telefone que não pára de tocar, sinto o cheiro do caramelo a invadir-me os sentidos e deixo de ouvir o que se passa ao meu lado e sento-me e choro. E o tempo obriga-se a parar. E penso nos 3 anos de Timor em Dili e no ano e meio de Timor em Baucau e no 4 de Dezembro de 2002 e no Abril de 2005, e penso no povo que acreditou que de uma montanha se poderia retirar dinheiro e que toda a gente viveria feliz sem trabalhar, que os búfalos nascem da terra e trazem consigo a água, nos espíritos que vivem nas estradas e pergunto-me:
- "Se não agora, quando?"

Thursday, July 12, 2007

AVISO

Não vamos voltar aqui por uns tempos.

A semana vai ser violentamente busy e dia 20 saimos de Timor.
Talvez voltemos, talvez não...

Sábado teremos um afilhado novo, Domingo será o meu aniversário, Segunda chegarão 160 professores de 4 distritos diferentes, para formação.

A vida corre indiferente ao que nos vai por dentro.

Apesar de tudo o tempo não passa.

Thursday, July 05, 2007

UMA SENHORA TAMBÉM SE SOLTA!

Que fazer quando num momento de aperto e quase desespero abdominal, soltamos um delicado e supostamente benigno pum na solidão do nosso escritório e o traidor, maldosamente, transforma-se em algo muito perto da classificação internacional de arma química, de carácter praticamente letal, e enquanto lutamos, com a dignidade possível, para respirar e nos dirigimos à janela que – constatamos – não dá para abrir porque na véspera instalaram as grades, mal, diga-se, e os vidrinhos da basculante não se movem, mas mesmo assim permitem observar que sorrindo bem dispostos, 3 dos membros do grupo se iria reunir connosco dali a 15 minutos – dali a 15 minutos, repito, 15 minutos – se dirigem com a inocência que caracteriza as vítimas de grandes catástrofes, ao nosso edifício, estando a 35 segundos de nos entrarem pela porta, onde definitivamente os espera alguém com um sorriso muito muito amarelo…
Estranhamente, tudo isto se passa em câmara lenta.

É lógico que isto não me aconteceu a mim, claro. Foi a uma amiga minha…

Tuesday, July 03, 2007

PRIMEIRA VEZ










primeiro voto

Tuesday, June 05, 2007

RETRATO A SÉPIA


Há um fenómeno transversal a toda a Ásia que afecta em especial as meninas: os vestidos de tule com fitas de cetim.

O vestido de tule com fitas de cetim respeita um principio básico: deve ser demasiado pequeno ou demasiado grande.Nunca, mas nunca, o vestido deve ser adequado ao tamanho da criança.

As fitas de cetim devem pender dos lados sem serem laçadas. Em circunstaância alguma deve ser dado banho à criança. A cara deve ser lavada e o cabelo molhado com um pente, deve ser penteado com risco ao lado assim como se tivesse sido lambida por um ruminante de grande porte.

O vestido de tule deve ser acompanhado por uma chinela de dedo em plástico colorido mas sempre de um só tom, preferencialmente contrastante e deve ser usado em todo e qualquer evento que fuja à normalidade dos dias.


Possuindo total conhecimento destes predicados e após ter recebido um convite em indonésio com a Dora a Exploradora na capa(uma personagem que consegue ser ridícula em duas línguas sem qualquer esforço) do vizinho de 4 anos da casa ao lado, enfio a minha filha num dos vestidos comprados em Bali para brincar ás princesas noivas e afins, faço-lhe um carrapito sem usar a escova, despenteio-lho levemente no final, pego na chinela mas acabo por optar pelos oshkosh, entrego-a à Dona Amélia e com o coração nas mãos mando-a para festa com a máquina fotográfica para usar à discrição.


E pela primeira vez, aqui, ela foi menina igual ás outras.

Saturday, May 26, 2007

I LIKE IT WHEN...

Gosto quando as pessoas vêem cá a casa comer coisas.
Coisas que eu faço.

Gosto de ver pratos vazios. Pratos vazios das coisas que eu faço.

Queria uma casa com uma mesa comprida onde o açucareiro de prata torto e por polir que achei em Bali estivesse sempre cheio de cubos de açúcar castanho e gente a enfiar lá os dedos para os mergulhar no chá.. E uma dessas bow Windows como a que eu tinha no Chile em casa da Choly e da Gloria e do Ruben, em que nos sentamos na almofada e olhamos para a água da baía e sentimos o dia a passar através da sucessão das marés.

Gosto de ver as chávenas de café vazias com os pauzinhos de canela meio roídos abandonadas nos móveis depois do jantar.

Gosto de ver gente a lutar com o sono sentadas na cama que faz de sofá. E enumero mentalmente quantas inocentemente lá se sentaram e só acordaram na manhã seguinte.

Gosto de sentir vida na minha casa. De ver gente a tocar os meus livros e a sair com um debaixo do braço.

Gosto do ar de fim de festa com que a cozinha fica. E olho para as pilhas de pratos e copos e talheres gordurentos e sorrio feliz ao pensar que não vou lavar nem um deles!!!!

Friday, May 25, 2007

PARABÉNS JANA!










PS: ao leitor desavisado - vários membros desta família já cortaram o cabelo ao longo da vida.
Excepto o pai, claro! E temos esperança de que nunca o faça!
Parabéns Janoca. É bom ter-te nas nossas vidas!
Tradução: Sim, por favor continua a mandar-me livros!

Wednesday, May 16, 2007

NOITES

Recostada na cama com o DVD player sobre os joelhos sinto o calor da chávena de Ceylon Orange Pekoe Tea, nas mãos, açucarado sem remorso com dois cubos e finjo que a ventoinha não está ligada e que o vento é vento e que faz frio. Coloco o “Wicker Park”. Depois de 45minutos a imagem começa a parar e o pequeno monitor enche-se de quadradinhos verdes. Mathew, Mathew, Lisa… desisto.

Recostada na cama com a segunda chávena de Ceylon Orange Pekoe Tea açucarado sem remorso com mais dois cubos, rodo a ventoinha para o 4 e finjo que está mesmo frio. Coloco o “Love me if you dare”, uma “imaginative cinematic bravura” de acordo com Kevin Thomas do Los Angeles Times, que deve ser considerado um intelectual lá na terra dele porque lê filmes com legendas e utiliza termos como cinematic bravura. Depois de 30 minutos a imagem começa a parar e o pequeno monitor enche-se de quadradinhos verdes. Julien, julien, Sophie… desisto.

Recostada na cama com a terceira chávena desta vez de China Lichee Black Tea açucarado timidamente com dois cubos, rodo a ventoinha para o 5 e coloco o “The door on the Floor”. A imagem pára ao fim de 10 minutos. Dou estalinhos com os dedos em frente ao ecran e digo a mim mesma que ao terceiro o filme volta a andar. A coisa resulta durante os 10 minutos seguintes. A ventoinha faz um barulho louco e mexo-me para reduzir a velocidade e sem querer desligo o DVD. Volto a ligar mas o CD não é reconhecido. Ted, Ted, MArion… desisto.

Recostada na cama com a quarta chávena de chá desta vez de Lady Grey Tea açucarado com um enorme peso na consciência e seis gotas de adoçante, coloco o “Sideways”. Parece-me ridículo e o som está péssimo. Resisto durante 7 minutos. Não ouvi o nome das personagens mas… desisto.

Com uma dor terrível nas costas, da posição em que me mantive, mais ou menos gelada pela exposição directa à ventoinha, e a doerem-me os olhos pela proximidade do ecran, apago a luz e deito-me com teína e açúcar a correr-me pelas veias. Estou completamente desperta. São 2 da manhã. Após uma hora e meia e 3 idas à casa de banho, pego no “Codex 632” e sento-me a ler. Ao terceiro parágrafo sobre criptografia, adormeço docemente com um tédio profundo.
Isto sim, é serviço público.

Obrigada Sr. Santos.

Thursday, May 10, 2007

WE WILL ALWAYS HAVE PARIS...(PART II)

Desço a ladeira e viro à esquerda, subo a estrada, passo a estação de serviço onde vendem Spring valley ao dobro do preço e garrafas de 20L de água Cool já a esverdearem.
-“Bensina?”- perguntam – “Full?”
-“10 dólares se faz favor. Ossan limitado. E nota se faz favor, pró kantor” – digo eu, porque esta é a tradição. Depois refilo porque nunca tenho desconto ou oferta de um litro, ou uma garrafa de água. Eu que deixo lá 1500 dólares por mês! Ele ri ri e não diz nada! Depois entra a bebé e eu aperto-lhe a bochecha direita e grito-lhe “boneeeeca”, que é indonésio para “boneeeeeca”, como bola é para bola, como mesa é para mesa. E estranhamente santa diz-se bunda e de cada vez que vou a caminho de Tutuala rebolo-me a rir quando vejo as letras garrafais no edifício da igreja da Bunda Maria. E visualizo sempre um altar com uma Santa reboluda de anafado rabiosque. E nunca lá entrei para não acabar com a fantasia. E rio agora a escrever isto e sei que vou para o céu porque ele pertence aos pobres de espírito. E depois, conforme a tradição, compro o pacote de leite de morango para a Gui, despejo os 20cl de água que o radiador precisa para se acalmar e vou embora. E eu sei que esta é a tradição porque fui eu que a inventei. Depois entro numa quase recta, passo o aeroporto e estou no caminho para Dili. E acalmo (caso não viaje com o M. a falar aos berros até Manatuto), acalmo.
Gosto da viagem para Dili. Gosto da sequência da passagem; da montanha, da planície, da várzea, do mar, da montanha, do mar, da montanha. E numa zona é primavera, porque as buganvílias colorem tudo e na outra é Outono porque as folhas atapetam o chão. E vêem-se bandos de gente a trabalhar o arroz e levanta-se a mão e diz-se adeus e todos respondem, e manadas de búfalos atravessam pachorrentamente a estrada e grita-se bom dia ao dono e ele responde, e pequenos grupos de homens concertam a estrada e abranda-se levanta-se o polegar à parolo e diz-se-lhes “servisu diak” e eles, todos eles, riem e respondem obrigaaaaaaada! E acena-se aos meninos de uniforme gasto que gritam invariavelmente “malae malae” ou “mister mister” independentemente do género de quem passa. E atrás a Gui dorme com o leitor de DVD nas pernas.
E este é o único momento que tenho para mim.
Com a montanha, o mar, a lezíria, os búfalos, os meninos desbotados, as buganvílias, os cantoneiros, as tekas, o odor da maresia e as mãos que se levantam para o adeus.
Porque a partir de agora cada uma destas viagens é de facto um adeus.
E choro e rio e insulto-me e lamento, e este é o único momento que tenho para mim.

Wednesday, May 02, 2007

UM METRO E DEZ CENTIMETROS







anda lá, vá, não tenhas pressa...

Monday, April 30, 2007

"CANTA A PRIMAVERA PÁ, CÁ ESTOU CARENTE, MANDA UM CHEIRINHO DE ALECRIM..."

Ao mudarmos de escritório passámos para uma zona de habitações cheias cheias de crianças.Uma menina linda linda de cabelos compridos chamada Dália apaixonou-se pela Gui e um rapazinho chamado Jacob apaixonou-se por mim. Com um Português atabalhoado ele entra na sala grande durante a mudança e fecha a porta da varanda onde brincam os outros e diz “Barulho la gosta” e franze a testa com um ar superior de menino de 80 anos.
Na tarde da mudança, segundo a minha equipa, estraguei cartolina da bonita, ao distribui-la aos meninos para fazerem desenhos. E gostei de vê-los deitados no chão com os lápis de cor todos a desenhar a mesma coisa e todos aborrecidos por não terem régua.
Lembrei-me de que em criança quando tínhamos que partilhar material de desenho, corríamos sempre para apanhar o amarelo. Porque todos os desenhos tinham um sol.
Mas os meninos da varanda do meu escritório, desenharam todos árvores, não usaram cores, excepto o preto e escreveram o nome em letras bem grandes no centro do papel.
Coberta de pó e terra dos pés à cabeça, descalça e de cabelos espetados a Gui levantou-se como se eu fosse a professora e entregou-me a cartolina dela. E lá no cimo estava um sol grande e amarelo.

Ás vezes pergunto-me se algum dia esta criança me perdoará tê-la tornado tão tão Portuguesa.
E sabe a Grândola!!!!! E diz que tem camaradas! Num país onde o maior insulto é chamar comunista a alguém. Então apercebi-me que por aqui ninguém se lembrou que era Abril. E passou o dia 25 assim como se fosse um dia qualquer. …


"Já murcharam tua festa, pá
mas, certamente esqueceram uma semente nalgum canto de jardim"

Tuesday, April 24, 2007

BAAAAAAAAAAAA....

Acho que quando o desalento se instala não há volta a dar-lhe.
Desaparece a vontade de tudo.
2007 tem sido um ano de cáca. Para mim este ano não serve e se não serve não vejo porque o devo manter.
Decidi que lá para Julho mudo de ano. Em Julho faço o reveillon de 2008. Ou o de 2007 outra vez e dou a este ano uma nova oportunidade.
O R. que é um homem crescido e tem até um emprego importante e é todo ele credibilidade, insiste em que me puseram o mau-olhado. Eu até acreditaria se ele me apresentasse soluções. Mas nada.

A Gui chora porque não tem super poderes. Porque assim não pode salvar o planeta. E eu fiquei a pensar nisso e importunei uma série de gente a perguntar se tivessem super poderes que poderes teriam. Segue-se um pequeno resumo:
A Pp faria o tempo voltar atrás (o que eu percebo porque ela agora já não pode usar listas horizontais)
O TV seria invisível
O Ol controlaria o tempo e a saúde (o que faz sentido porque é Francês)
A T veria o futuro
A An. Seria uma flor carregada de paz e amor espalhando harmonia (o que também faz sentido porque quando respondeu estava em Dili a meio de um jantar e como tal certamente muito ébria)
A P. neutralizaria a capacidade de um ser humano fazer o outro sofrer (o que eu entendo porque andámos as duas na mesma escola em criança)
O J teria o dom da ubiquidade (mas eu suspeito que ele só disse isto para mostrar que conhecia o termo. Penso mesmo que ele o aprendeu nesse dia e estava mortinho para usar a palavra).
Estava eu a ficar preocupada por me ver rodeada de gente tão consciente quando finalmente por volta das 2 da manhã chega a resposta do N. O N. diz que se fosse super “iroi”não se chateava com nada e defendia-se de chatices de maior com o super flato ultra sónico. É lógico que ele não disse flato, mas eu sou uma pessoa educada…O super flato, também conhecido por SP minguaria no entanto perto de cidadãs suecas detentoras de determinadas características que não vale a pena aqui mencionar transformando-se segundo ele “ em perfume do bom, com fero monas”. O N. devolveu-me a esperança no ser humano.
Se eu tivesse super poderes detectaria idiotas num piscar de olhos. E este poder só poderia ser combatido com uma grande sandes de torresmos firmemente apontada a uma das minhas falanges… Suspeito que não teria muitos amigos…

Monday, April 16, 2007

O PIOR DAS FÉRIAS...



é o regresso à realidade

Monday, April 02, 2007

SEXTA...


vamos a banhos!


Só temos que nos arrastar lentamente até lá.

Fincar as unhas em cada dia da semana para nos aguentarmos até ao seguinte.


Sexta, vamos a banhos!


Passar tardes nas galerias de Ubud, manhãs na cozinha da Casa Luna a aprender os segredos das especiarias de Bali.


Sexta, vamos a banhos!


E segunda vota-se em Timor...

Saturday, March 24, 2007

PARABÉNS, BÉBÉ!



A menina fez anos!
cinco
5
...

Thursday, March 22, 2007

SHERAZADE

Uma noite já tarde, eu exausta, ela desperta, pede-me que lhe conte uma história. Estou muito cansada, não consigo ler, digo-lhe eu. Uma da tua cabeça, insiste ela.
E tentando despachar o assunto, invento a história de uma história que vivia na minha cabeça mas que não queria sair. Ela escondia-se e escondia-se porque não queria cair na minha boca e transformar-se em palavras e entrar nos ouvidos dos meninos. A história queria viver sossegada na minha cabeça.
E nas noites seguintes dos dias seguintes dos meses seguintes mesmo depois das histórias lidas, chega sempre o pedido: e agora a da história que vive na tua cabeça. E em todas as noites dos dias seguintes dos meses seguintes a história, teimosa, inventou mil pretextos para não sair da minha cabeça. E essa tornou-se a história da história.
Hoje umas mãozitas agarraram os meus cabelos, encostaram-se uns lábios e ouviu-se: Olá história, ainda aí estás? Tens que vir cá para fora. Estão 3 girassóis no jardim, há um gato que não tem medo de nós e vem cá a casa comer, o carro da mamã não anda, almocei comida de dieta. Tens que vir cá para fora. Ainda aí estás, História? Então adeus, boa noite, porta-te bem, com licença, até amanhã, beijinhos, adeus.
E só faltou dizer, desta que se assina....

SUSTOS





Ter uma filha doente faz-nos cair em todos os clichés – rezar, fazer promessas, gritar com toda a gente, fazer promessas, tomar decisões drásticas, desistir do emprego, fazer promessas.

Ter uma filha doente faz-nos sentir que somos de facto adultos e que há uma serie de coisas que deixámos para trás e que nunca retomaremos, que há uma parte de nós que já foi praticamente o nosso todo que faz parte do passado. E vai lá ficar.

Ter uma filha doente faz-nos sentir impotentes. Perdidos. Faz-nos chorar em frente ao termómetro e dormir enrolada. E um dia ela acorda e as mãozinhas estão frescas. E a vida é bonita outra vez.

E esquecem-se as promessas...

Saturday, March 10, 2007

DA GERÊNCIA

aNa, Jana, Céu, Mimiko, Sóni@, Eva, Sónia Luísa, Ursita Azul, Sá Morais, Pepe, Kooka, Guictx,

ao mudar o Blogger para a nova versão, descobri 24 comentários que o sistema subitamente desencantou.

E eram vossos.

As minhas desculpas.