Tuesday, August 29, 2006

SABES...


Sonho que lhe acontecem mil tragédias. Vejo o corpinho moreno a sofrer impactos, a cair de muros, a ser levado por águas… vejo-me a chegar a um local para a buscar e ela não estar lá porque a levaram mentindo a quem a tinha e eu grito e choro com uma dor muito maior do que aquela que se sente quando se chega a casa e abrimos a porta e sentimos falta de objectos que lá estavam e descobrimos que fomos deixadas sós. E a angústia do sonho prolonga-se durante o dia. E de cada vez que olho para ela não consigo deixar de pensar que não mereço que é bom demais que tenho medo que acabe. E viro-me e digo-lhe, és fantástica, sabes, és a melhor bebé do mundo e eu sou muito muito vaidosa de ser a tua mamã, sabes? E ela sorri com ar superior, sacode o cabelo e responde sim, eu sei e, olha mamã, sabes, queria um batom com sabor a peixe…

Saturday, August 26, 2006

PART 1: WE´RE ON THE ROAD TO NOWHERE...

10.30H, Saímos de Baucau. O plano era fazê-lo por volta das 7. Mas pressa para quê?
E lá vamos as duas muito calmamente. Montanha abaixo, montanha acima, praticamente sem trânsito e rapidamente chegamos a Manatuto. Em Manatuto há duas opções; à direita por dentro da cidade, à esquerda por fora. As estradas reencontram-se na rotunda. Qual é a que escolho sempre? A da esquerda? Não será a da direita? Vamos pela da direita, passamos quase ao lado do mercado, viramos à esquerda junto à biblioteca, e depois á direita junto ao restaurante e já está. A rotunda. Damos a volta a metade e seguimos em frente. Como fazemos sempre. Mais uma hora e chegamos a Dili.Isto anima o espírito. O calor começa a ficar insuportável. O ar condicionado do carro larga um bafo quente e a G. já acabou o filme dos piratas.
Vou fazendo mentalmente a lista das coisas a fazer. Ensaio diálogos para as reuniões a marcar que não vão ser fáceis de conseguir. Invento possibilidades para as baterias do frigorífico apesar dos fracos conhecimentos de física. E se colocasse duas em paralelo?
E subitamente reparo na paisagem. É estranho como a estação seca altera tudo. A estrada parece mais larga pelo recuo da vegetação. Vêem-se estradas mais ou menos paralelas que estavam antes cobertas pelos ramos agora secos. Tudo parece diferente. E apercebo-me de que nunca tinha estado no Leste nesta altura do ano.
Ao longe uma árvore caída atravessa-se na estrada. Procuro uma forma de a contornar olhando pelo rabinho do olho para todos os lados, ocorrendo-me a possibilidade de emboscada… Nada. Mas o fumo da raiz ainda a arder queima-nos os olhos.
500 metros à frente a mesma coisa. Somos as primeiras a encontrar esta e ainda não há um trilho. Criamo-lo e damos graças pelo 4WD. Somos as Joanas Lamy do 3º esquerdo…

PART 2: UPS!

Estranhamente a paisagem não se torna mais familiar e a responsabilidade não pode simplesmente ser atribuída à estação seca. Vamos subindo quando deveríamos estar a descer. A estrada piora quando deveria estar a melhorar e vindo do nada surge uma ravina com um leito de rio seco, gigantesco, do nosso lado DIREITO! Não pode ser. O rio tem que estar no lado ESQUERDO! “Não conheço nada disto G.” “Eu conheço aquela árvore mamã, Lembro-me daquela árvore, mamã” Quer dizer, ela tem 4 anos… E recusando-me a admitir a realidade continuo a conduzir e não há migalhas deixadas para trás…Até que chegamos a uma estrada a pique onde uma quase Anguna arrasta troncos de árvores e com imenso estilo, como se só quisesse entabular conversa com o condutor pergunto: “Português?” que não “Inglês?”que não “Tétum?” pergunto a medo. Também não. Então como qualquer bom Tuga em situações de limitação linguística, elevo o tom de voz (porque qualquer estrangeiro nos entende se gritarmos sufientemente alto) e pergunto em Português: “Então, carreta vai paonde?” “Tarbora” responde ele. Tarbora? Tarbora? Ele quererá dizer Natarbora? Natarbora? No Leste do Leste???Lá na ponta? Eu estou a caminho de NATARBORA? “Então, e se eu quisesse ir assim, assim pra Dili, poderia ir por aqui?” Acena que sim e acrescenta: “Tarbora, Same, Dili”. “E quantas horas de tempo (porque no meu Tétum o importante é dar-lhe a intenção da frase…!)” “5horas” responde!”Então e se for por aqui?” E aponto para a estrada de onde venho “aumenta tempo. 5 horas e aumenta tempo”. Pois eu cá não acho, jovem, pensei eu. E subi mais, virei o carro e voltei para trás e insultei-me em silêncio e dei por mim a dizer alto: “Mas onde raio é que eu me enganei????” Mas onde raio é que eu me enganei????”

PART 3:REVISITING

E lembro-me do Sr. M, velho contabilista Timorense que me ensinou (depois do G. do R. e do P. se terem miseravelmente perdido em Jaco). “quando está perdida tira a roupa e veste ao contrário para conseguir encontrar o caminho de volta”. E lembro-me de um livro de um escritor Timorense que contava a história de gente em Ataúro perdida no mesmo espaço físico mas misteriosamente em espaços temporais diferentes. E pensei: “Eu não vou sair daqui”. E olho para o ponteiro da gasolina e vejo-o ainda em cima do F. E olho para o da temperatura e vejo-o sossegado cá em baixo. E olho para o banco ao lado e vejo duas garrafas de água. E olho para trás e uma vozita diz em tom grave: “Acho que estou a ficar com um bocadinho de medo, mamã”. Bolas! Isto não vai ser nada! E contorno um carro abandonado, parado no meio da estrada acente em pedras de um dos lados. E decido-me a encontrar a treta do caminho. E contemplo a possibilidade de parar o carro e sair e despir toda a minha roupa e vesti-la do avesso e pedir ajuda ao Sr. Da Terra. Mas esse passou a ser o plano B. O recurso a utilizar quando quiser que alguém surja para ajudar. Porque em Timor, basta uma mulher insinuar um mamilo numa zona total e absolutamente deserta e logo vindos do nada, surgem 5 ou 6 Timorenses…

PART 4: THE END IS NEAR...

E vamos andando. Atrás a G. adormeceu. As árvores caídas, o leito seco do rio… as curvas, a estrada má, a estrada boa, aquele pedacinho mesmo muito mau…as bifurcações e um ruído… um ruído… é o telefone! E “quando o telefone toca, diga a frase se faz favor…” TENHO REDE! Devo estar perto de qualquer sítio levemente civilizado! E descubro o telefone caído por baixo do banco e atendo e ouço do outro lado: “Então onde estás, não almoças ca gente?” “Tou perdida”. “Então estás perdida onde?” Quer dizer, todo o conceito de estar perdida roda à volta do facto de não se saber onde se está, não é? E a chamada cai.
Mais à frente um marco supostamente geodésico lindo, azul, diz… uma data! Mas para quê? Para quê? Mais uns km e outro. A mesma data. Mas para quê? E subitamente meio escondido pela erva, um marco Português. MTT10km. E eu senti brotar o amor pela pátria e juro, que se pudesse e se ainda houvesse, inscrevia-me naquele preciso momento na Mocidade Portuguesa. E vestia a farda e cantava as canções. Porque MTT só pode ser Manatuto. E 10km só pode ser dez kilometros! E quem escreveu isto há muitos anos pensou que um dia isto ainda me viria a dar jeito! E chego à rotunda e viro-me para Dili e depressa tenho o rio à esquerda. E um pouco mais à frente um mar azul à direita. E o azul é turquesa, e hoje há ondas e espuma branca e misteriosamente 3 ou 4 salpicos são trazidos pelo vento e tocam-me a cara à laia de insulto: “Idiota! Parecem dizer elas. Quem viaja 1 hora sem sentir falta deste azul?”

PART 5: MORAL DA HISTÓRIA

Quando se chega a Manatuto, se se quer fazer as coisas como se faz sempre, não se vai pela estrada da direita mas pela da esquerda. Se se opta por ir pela da direita, então ao chegar à rotunda não se faz meio circulo e segue-se em frente. Não. Faz-se um círculo quase completo porque se entrou num ponto diferente da rotunda…Got it? Pois a mim demorou-me a lá chegar…Mais precisamente quase 2 horas…


Nota importante: Quando cheguei a Dili ainda haviam chocos grelhados com molho verde no HT e pão de ló daquele que fica assim meio líquido….

Tuesday, August 22, 2006

YES, WE ARE BACK








...mas não nos apetece falar disso.

Friday, August 11, 2006

THE PLOT

O dia desperta com uma chuva forte e um vento moderado que agita os coqueiros do jardim. Abrimos as cortinas e ficamos quietas, deitadas, a ver os esquilos agitados a saltar de ramo em ramo. São 6.30 da manhã.

Depois ligamos a televisão e descobrimos a bomb plot em Londres.
Bolas! Agora é que nunca mais vamos recuperar a bagagem…

E um XXL na Ásia equivale ao S Europeu…
Acho que terei de ir ás reuniões no Ministério embrulhada num sarong…

Thursday, August 10, 2006

AS FÉRIAS DELE

Estou em Bali, numa esplanada à beira-mar com internet sem fios, a comer morangos com chantilly e a ver o meu portátil ser usado pelo Guilherme para reservar hotel em Singapura. ..

BALI

Sabemos que pertencemos a um local, quando:
ao chegarmos detectamos pela expressão qual será o funcionário que nos verifica o visto com maior rapidez;
olhamos com superioridade os outros passageiros que procuram o tapete da bagagem;
aceitamos com naturalidade a perca de uma mala;
não fazemos câmbio e vamos directas ao ATM que dá notas de 100.000;
temos gente à espera que nos trata pelo primeiro nome;
ficamos num hotel onde encomendamos room service ao fazer o check in ainda na recepção e sem olhar a lista;
andamos na rua e gritam-nos “Welcome back”;
damos instruções a taxistas desorientados;
viramos as costas quando se tem que negociar um preço;
ouvimos dos lojistas “no, no, you bought that one last time”…

Não me faz falta Portugal, fazem-me falta os afectos e a familiaridade. O reconhecer e ser reconhecida. Os sorrisos quando chego. O adeus cantado quando parto; porque há momentos na vida em que a casa não é onde está o coração. Porque o coração divide-se infinitamente por aqueles com quem nos cruzamos, e cada um leva um pedaço. E cada um vai para um sítio diferente. E assim nós pertencemos a toda a parte. E a questão é definir uma ordem de prioridade nos afectos, combinando-a com um processo mais ou menos racional de selecção. E tudo seria mais fácil se esta frase fizesse sentido…

E segunda-feira, Timor…

Thursday, August 03, 2006

TWO MORE DAYS AND THEN...


Praia da Areia Branca
Originally uploaded by SPereira.

(Areia Branca em 1960 - clicar para conhecer o dono da foto)

Juro que um dia ainda anunciarei a partida para o 1ºmundo.

depois irei lamentar-me de não saber operar coisas complexas como máquinas de bilhetes, ou de me perder em corredores de hipermercados, ou de não conseguir decidir-me por um produto dada a variedade, ou de não comer carne por estar farta, ou até mesmo, ambição das ambições, desligar as luzes para poupar e comer à luz de velas porque é romântico...

Juro que um dia ainda anunciarei a partida para o 1ºmundo, mas não creio que a coisa esteja para breve...