Saturday, May 26, 2007

I LIKE IT WHEN...

Gosto quando as pessoas vêem cá a casa comer coisas.
Coisas que eu faço.

Gosto de ver pratos vazios. Pratos vazios das coisas que eu faço.

Queria uma casa com uma mesa comprida onde o açucareiro de prata torto e por polir que achei em Bali estivesse sempre cheio de cubos de açúcar castanho e gente a enfiar lá os dedos para os mergulhar no chá.. E uma dessas bow Windows como a que eu tinha no Chile em casa da Choly e da Gloria e do Ruben, em que nos sentamos na almofada e olhamos para a água da baía e sentimos o dia a passar através da sucessão das marés.

Gosto de ver as chávenas de café vazias com os pauzinhos de canela meio roídos abandonadas nos móveis depois do jantar.

Gosto de ver gente a lutar com o sono sentadas na cama que faz de sofá. E enumero mentalmente quantas inocentemente lá se sentaram e só acordaram na manhã seguinte.

Gosto de sentir vida na minha casa. De ver gente a tocar os meus livros e a sair com um debaixo do braço.

Gosto do ar de fim de festa com que a cozinha fica. E olho para as pilhas de pratos e copos e talheres gordurentos e sorrio feliz ao pensar que não vou lavar nem um deles!!!!

Friday, May 25, 2007

PARABÉNS JANA!










PS: ao leitor desavisado - vários membros desta família já cortaram o cabelo ao longo da vida.
Excepto o pai, claro! E temos esperança de que nunca o faça!
Parabéns Janoca. É bom ter-te nas nossas vidas!
Tradução: Sim, por favor continua a mandar-me livros!

Wednesday, May 16, 2007

NOITES

Recostada na cama com o DVD player sobre os joelhos sinto o calor da chávena de Ceylon Orange Pekoe Tea, nas mãos, açucarado sem remorso com dois cubos e finjo que a ventoinha não está ligada e que o vento é vento e que faz frio. Coloco o “Wicker Park”. Depois de 45minutos a imagem começa a parar e o pequeno monitor enche-se de quadradinhos verdes. Mathew, Mathew, Lisa… desisto.

Recostada na cama com a segunda chávena de Ceylon Orange Pekoe Tea açucarado sem remorso com mais dois cubos, rodo a ventoinha para o 4 e finjo que está mesmo frio. Coloco o “Love me if you dare”, uma “imaginative cinematic bravura” de acordo com Kevin Thomas do Los Angeles Times, que deve ser considerado um intelectual lá na terra dele porque lê filmes com legendas e utiliza termos como cinematic bravura. Depois de 30 minutos a imagem começa a parar e o pequeno monitor enche-se de quadradinhos verdes. Julien, julien, Sophie… desisto.

Recostada na cama com a terceira chávena desta vez de China Lichee Black Tea açucarado timidamente com dois cubos, rodo a ventoinha para o 5 e coloco o “The door on the Floor”. A imagem pára ao fim de 10 minutos. Dou estalinhos com os dedos em frente ao ecran e digo a mim mesma que ao terceiro o filme volta a andar. A coisa resulta durante os 10 minutos seguintes. A ventoinha faz um barulho louco e mexo-me para reduzir a velocidade e sem querer desligo o DVD. Volto a ligar mas o CD não é reconhecido. Ted, Ted, MArion… desisto.

Recostada na cama com a quarta chávena de chá desta vez de Lady Grey Tea açucarado com um enorme peso na consciência e seis gotas de adoçante, coloco o “Sideways”. Parece-me ridículo e o som está péssimo. Resisto durante 7 minutos. Não ouvi o nome das personagens mas… desisto.

Com uma dor terrível nas costas, da posição em que me mantive, mais ou menos gelada pela exposição directa à ventoinha, e a doerem-me os olhos pela proximidade do ecran, apago a luz e deito-me com teína e açúcar a correr-me pelas veias. Estou completamente desperta. São 2 da manhã. Após uma hora e meia e 3 idas à casa de banho, pego no “Codex 632” e sento-me a ler. Ao terceiro parágrafo sobre criptografia, adormeço docemente com um tédio profundo.
Isto sim, é serviço público.

Obrigada Sr. Santos.

Thursday, May 10, 2007

WE WILL ALWAYS HAVE PARIS...(PART II)

Desço a ladeira e viro à esquerda, subo a estrada, passo a estação de serviço onde vendem Spring valley ao dobro do preço e garrafas de 20L de água Cool já a esverdearem.
-“Bensina?”- perguntam – “Full?”
-“10 dólares se faz favor. Ossan limitado. E nota se faz favor, pró kantor” – digo eu, porque esta é a tradição. Depois refilo porque nunca tenho desconto ou oferta de um litro, ou uma garrafa de água. Eu que deixo lá 1500 dólares por mês! Ele ri ri e não diz nada! Depois entra a bebé e eu aperto-lhe a bochecha direita e grito-lhe “boneeeeca”, que é indonésio para “boneeeeeca”, como bola é para bola, como mesa é para mesa. E estranhamente santa diz-se bunda e de cada vez que vou a caminho de Tutuala rebolo-me a rir quando vejo as letras garrafais no edifício da igreja da Bunda Maria. E visualizo sempre um altar com uma Santa reboluda de anafado rabiosque. E nunca lá entrei para não acabar com a fantasia. E rio agora a escrever isto e sei que vou para o céu porque ele pertence aos pobres de espírito. E depois, conforme a tradição, compro o pacote de leite de morango para a Gui, despejo os 20cl de água que o radiador precisa para se acalmar e vou embora. E eu sei que esta é a tradição porque fui eu que a inventei. Depois entro numa quase recta, passo o aeroporto e estou no caminho para Dili. E acalmo (caso não viaje com o M. a falar aos berros até Manatuto), acalmo.
Gosto da viagem para Dili. Gosto da sequência da passagem; da montanha, da planície, da várzea, do mar, da montanha, do mar, da montanha. E numa zona é primavera, porque as buganvílias colorem tudo e na outra é Outono porque as folhas atapetam o chão. E vêem-se bandos de gente a trabalhar o arroz e levanta-se a mão e diz-se adeus e todos respondem, e manadas de búfalos atravessam pachorrentamente a estrada e grita-se bom dia ao dono e ele responde, e pequenos grupos de homens concertam a estrada e abranda-se levanta-se o polegar à parolo e diz-se-lhes “servisu diak” e eles, todos eles, riem e respondem obrigaaaaaaada! E acena-se aos meninos de uniforme gasto que gritam invariavelmente “malae malae” ou “mister mister” independentemente do género de quem passa. E atrás a Gui dorme com o leitor de DVD nas pernas.
E este é o único momento que tenho para mim.
Com a montanha, o mar, a lezíria, os búfalos, os meninos desbotados, as buganvílias, os cantoneiros, as tekas, o odor da maresia e as mãos que se levantam para o adeus.
Porque a partir de agora cada uma destas viagens é de facto um adeus.
E choro e rio e insulto-me e lamento, e este é o único momento que tenho para mim.

Wednesday, May 02, 2007

UM METRO E DEZ CENTIMETROS







anda lá, vá, não tenhas pressa...