Monday, April 30, 2007

"CANTA A PRIMAVERA PÁ, CÁ ESTOU CARENTE, MANDA UM CHEIRINHO DE ALECRIM..."

Ao mudarmos de escritório passámos para uma zona de habitações cheias cheias de crianças.Uma menina linda linda de cabelos compridos chamada Dália apaixonou-se pela Gui e um rapazinho chamado Jacob apaixonou-se por mim. Com um Português atabalhoado ele entra na sala grande durante a mudança e fecha a porta da varanda onde brincam os outros e diz “Barulho la gosta” e franze a testa com um ar superior de menino de 80 anos.
Na tarde da mudança, segundo a minha equipa, estraguei cartolina da bonita, ao distribui-la aos meninos para fazerem desenhos. E gostei de vê-los deitados no chão com os lápis de cor todos a desenhar a mesma coisa e todos aborrecidos por não terem régua.
Lembrei-me de que em criança quando tínhamos que partilhar material de desenho, corríamos sempre para apanhar o amarelo. Porque todos os desenhos tinham um sol.
Mas os meninos da varanda do meu escritório, desenharam todos árvores, não usaram cores, excepto o preto e escreveram o nome em letras bem grandes no centro do papel.
Coberta de pó e terra dos pés à cabeça, descalça e de cabelos espetados a Gui levantou-se como se eu fosse a professora e entregou-me a cartolina dela. E lá no cimo estava um sol grande e amarelo.

Ás vezes pergunto-me se algum dia esta criança me perdoará tê-la tornado tão tão Portuguesa.
E sabe a Grândola!!!!! E diz que tem camaradas! Num país onde o maior insulto é chamar comunista a alguém. Então apercebi-me que por aqui ninguém se lembrou que era Abril. E passou o dia 25 assim como se fosse um dia qualquer. …


"Já murcharam tua festa, pá
mas, certamente esqueceram uma semente nalgum canto de jardim"

3 Comments:

Blogger Pepe, Samuel e Matias said...

Isso da "Dália" era a brincar, não era?

4/30/2007 6:46 pm  
Anonymous Anonymous said...

Isto que vou escrever é muito estúpido, mas tenho por vezes a impressão que está tudo a começar em Timor, até o nascer do sol. Apeteceu-me mais do que uma vez fazer as malas e partir para uma terra assim, onde pudesse desenhar, uma vez que fosse, o (re)nascer do sol. Eu sei que isto é estúpido, mas sabe tão bem escrevê-lo. Enquanto escrevemos, todas as sementes são possíveis.

Um abraço abrileiro e alenteiro desta desconhecida.

4/30/2007 11:49 pm  
Anonymous Anonymous said...

Agora tocaste (uma vez mais!) no ponto, Alexandra! Chico Buarque... Abril português... e as crianças, as crianças sempre! Como tu as vês, como tu lhes ensinas o que é ser criança. Portuguesas ou timorenses são crianças em qualquer parte do mundo. E tu dás-lhes um pouco mais de infância na medida do teu possível.

Abraço grande*

5/01/2007 10:47 pm  

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