Tuesday, January 30, 2007

CHÁ DE JASMIM À CHUVA (ou presunção e água benta)






Estás triste Gui?
- Não, estou a pensar.
A pensar coisas boas?
- Coisas complechas, sabes. Muito complechas...
Dá-me tapinhas na mão e acrescenta:
-Vá, vai fazer as tuas coisinhas, mamã.

Ao ver-me sair de casa pela manhã a menina pergunta:
Malae? Ba ne be?
Ba servisu – respondo

No dia seguinte a menina pergunta:
Malae? Ba ne be?
Ba servisu – respondo

No dia seguinte ao seguinte a menina pergunta:
Malae? Ba ne be?
Ba servisu – respondo

Na semana seguinte a menina pergunta:
Malae? Ba ne be?
Ba servisu – respondo

Na semana seguinte à seguinte a menina pergunta:
Malae? Ba ne be?
Ba servisu – respondo

Um ano depois a menina ainda pergunta:
Malae? Ba ne be?
Ba servisu – respondo

Hoje a menina perguntou:
Malae? Vais trabalho?
E por azar eu não ía…
Então menti!

Monday, January 22, 2007

DEEP

O tédio, um tédio profundo.
Os amigos foram todos embora depois do Natal e não vão regressar.
A parabólica queimou-se e ninguém a consegue arranjar.
As meninas continuam a catar-se na piscina.
Não muito longe foi avistado um crocodilo.
Em duas semanas li:
O Impressionista de Hari Kunzru
A Conspiração de Dan Brown
Food, Sex and Money da Liz Byrski
Living History da Hillary Clinton
A Fórmula de Deus de José Rodrigues dos Santos
Debato-me com O Historiador de Elizabeth Kostova
Vou a meio do O Fim da Pobreza de Jeffrey Sachs
Reli o Querido Primeiro Amor de Zoe Valdês
Já li 6 vezes as primeiras 25 páginas do Poverty and Development into the 21st Century de Allen e Thomas (continuo sem me recordar do que lá estava escrito)
Desenhei um plano de Capacitação de 5 anos para uma Fundação Local - sem que tal me tivesse sido pedido ou mesmo em algum momento algum dos seus membros tenha manifestado desejo de algo semelhante (mas hoje encontrei o vice director e ele aceitou dar-lhe uma olhada, já agora…o pior é se eles o acham interessante…).
Esta semana tenho para ler:
What the Body Remembers de Shauna Singh Baldwin
Throwaway Daughter de Ting Xing Ye (afinal li-o esta noite!)
The Teardrop Story Woman de Catherine Lim
Guia de Receitas para Apreciadores de Pães e Bolos
Tenho ainda um dicionário de Indonésio/Inglês…. (já li a lista telefónica que me ofereceram na Timortelecom…)
E depois disso…
NADA!!!!

Friday, January 19, 2007

UMBIGO





a menina pergunta:
gosta de mim mamã?
amo-te querida.
mas gostas de mim assim como a lebre? gostas de mim daqui até à lua e de volta até cá baixo?

Thursday, January 18, 2007

SSSSSSSSSssssssss

o pau acastanhado serpenteava no meio da estrada e eu pensei que bonito que era o Outono lembrando-me depois que aqui não há estações só monção ou nem por isso e que não havia vento lá fora.
o pau acastanhado era uma cobra enorme que impávida em plena "cidade" atravessava a rua talvez atraida pelo cheiro a sangue dos galos derrotados na luta da tarde.
e eu de carro passo-lhe por cima.
e depois imagino-a a enrolar-se na roda e atacar-me furiosa quando saisse do carro.
olho pelo espelho e vejo-a a regressar ao local de onde veio, meio enrolada...

agora dizem-me que ela pode vir procurar-me. parece que deveria ter parado e pedido desculpa e atirado dois não sei quê (acho que é dinheiro)
ela que venha e eu passo-lhe um cheque...
ou melhor,
transferência, faço-lhe uma transferência, não precisa de vir...

Monday, January 15, 2007

A SUNDAY AFTERNOON







Sentadas na beira da piscina, muito entretidas, a menina catava a menina.
O produto da caça era atirado ás águas.

Fomos à praia...

Thursday, January 11, 2007

THIS IS NOT A PIPE - PART II



Diz o Secretário de Estado de visita à povoação a quem anunciou que a água distribuida semanalmente durante 10 minutos iria ser cortada por 3 meses:

- Mas Irmãos, tenho boas notícias. O cano do petroleo está quase pronto e a chegar a Timor.

Responde o chefe local:
- Homem, mas você é doido?

A CAT THING

A luz que fica do lado de fora da janela projecta subitamente uma sombra gigantesca na parede atrás de nós e ouve-se:
- Miaaaaaaaaaaaoóoóóó…
A mãe do João encontrou-o!
Ele por sua vez, que estava a acabar de mamar na minha blusa, arrebita as orelhas e ganha uma súbita energia. E responde:
- Miiiiiii…
E ouve-se novamente:
- Miaaaaaaaaaaaoóoóóó…
À janela estava a mãe a rugir e a olhar-nos directamente. Sem medos.
Após breves conversações, em que tentámos incluir o João sem grande êxito, decidimos devolvê-lo.
Fomos até lá fora e ela dirigiu-se a nós mostrando quem de facto controlava a situação.
- Boa noite Srª Dona Gata. Trazemos-lhe o seu filho. – digo eu.
- E demos-lhe camarão mas ele ficou avisado de que não ía ser assim todos os dias – acrescenta a Gui.
- Miaaaaaaaaaaaoóoóóó… FFFfffffffffffffffffffffff.
- Está aqui Srª Dona Gata, desculpe Srª Dona Gata.
E fugimos… de rabo entre as pernas...

Wednesday, January 10, 2007

O NOVO ANO TROUXE....










Chegou cá a casa o João!

Monday, January 08, 2007

AND...


A chuva é pouca
A televisão continua por arranjar
A água continua sem vir mas o contador foi instalado!
Descobrimos um novo recanto na praia
Criámos uma nova rotina na esperança de enganar o tempo
Mudámos a disposição dos móveis
Trocámos as funções das divisões
Criámos uma nova casa na esperança de enganar o tempo

Janeiro não passa.

Wednesday, January 03, 2007

E FELIZ ANO NOVO!


O novo ano brindou-nos com uma tempestade tropical.
É lindo.
A chuva cai ininterruptamente e a temperatura baixou agradavelmente.
Os sapos no jardim escondem-se por baixo das folhas com a cabecinha à espreita e um ar paciente.
O vento sopra levando quase tudo pelo ar. À beira da piscina desenrola-se uma luta pessoal entre o funcionário do hotel, com botas de borracha e uma touca do duche na cabeça, e as folhas arrastadas pelo vento que teimam em cair na água.
Ao contrário de Lisboa, a chuva traz táxis. E eles são fáceis de encontrar e fazem manobras absurdas para apanhar os passageiros em locais que não os forcem a correr debaixo da chuva.
As pessoas sorriem. Sorriem como se estivesse sol. Porque quem paga um bilhete para passar uns dias num paraíso tropical e apanha 18h de chuva diárias não tem alternativa senão sorrir. E tentar ver o lado cómico da situação.
A 4horas de avião daqui, na Tailândia, 6 bombas fizeram cancelar as celebrações do Ano Novo. Aqui, certas zonas foram isoladas sendo apenas possível acedê-las a pé. Por razões de segurança. Os carros são verificados com espelhos, as carteiras com detectores de metal antes de se entrar em qualquer grande superfície – hotel, centro comercial…
Sadam foi morto.
Em Inglaterra 4 pessoas envolvidas nos massacres do Ruanda foram presas.
O mundo criou conceitos estranhos de justiça.
Em Portugal fala-se (pouco) do aborto. E as pessoas esquecem-se de que não se trata de decidir se ele é correcto ou não. Trata-se de não defender posições pessoais. Trata-se de um gesto maior por parte de quem o julgar errado. De dizer a quem o acha certo “eu sou contra, mas reconheço-te o direito de tu, que és a favor, o fazeres em segurança sem colocares em risco a tua saúde e sem alimentares quem explora o teu segredo”.
Aqui em Bali, no outro lado do mundo, sinto esta chuva como um detergente divino. E dá vontade de ir para o jardim e deitar-me no chão e sentir cada gota a limpar-me e a preparar-me para o Novo Ano, não fora esta ser a única roupita com que a Companhia Aérea me deixou… e o gesto em si, pronto, um bocado ridiculo.....

NOVIDADES?

Perderam-nos a bagagem. Mas isso não é nada de novo…
Se bem que o conceito de perder uma mala envolve um outro conceito – o de movimento. As coisas poderão perder-se ao deslocarem-se de um local para outro acontecendo-lhes algo no processo E neste caso, e pela segunda vez, não houve movimento das nossas malas. Eles limitam-se a recebê-las e deixá-las lá.
Começo a pensar que há uma razão para a empresa de handling do aeroporto de Lisboa se chamar Groundforce. Há de facto uma força que atrai as bagagens ao chão impedindo-as de voar. A Groundforce existe para assegurar que para onde quer que viajemos, poderemos estar certos de que eles envidarão os melhores esforços para que a bagagem não nos siga.
Ficam lá.
Grounded...