Sunday, September 30, 2007

BLUE BUTTERFLY

Agostinho da Silva disse-me um dia que a solidariedade era uma forma moderna de expressão de egoísmo. Ajudamos o outro pela satisfação que isso nos trás e não necessariamente pelo impacto causado na vida do outro.

Quanto do amor é feito de egoísmo?
Quando do amor é feito do que nos causa conforto?
Balzac, o nosso malamute, morreu ontem depois de meses sem ninguem ter coragem de o mandar abater. E mesmo na última noite e na última manhã, quando ele gemia e se contorcia com dôr, não havia coragem para fazer o telefonema.

Ajudá-lo a morrer seria poupar-lhe sofrimento. Mantê-lo vivo, era dar-lhe a dignidade de o deixar partir quando a hora dele realmente chegasse.

Mas seria isso mesmo? Ou não teremos inconscientemente considerado que seria maior o nosso sofrimento ao ter que lidar com a morte dele? Ou não quisemos nós inconscientemente poupar-nos à responsabilidade de terminar uma vida e à dôr que vem daí. Ou não quisemos nós pensar que aquilo poderia passar e ele qual lázaro levantar-se dos mortos. Fomos cobardes ou amávamo-lo demasiado?

Poupar o sofrimento é um gesto de amor? Manter o que amamos o maior tempo possivel junto de nós é um gesto de amor dirigido ao outro ou a nós próprios?

15 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Queria só deixar-te um beijo... a minha cadela morreu há seis meses, estava eu longe, ainda estou longe, e doeu e dói e dói. Não há palavras, por isso, só um beijo...

9/30/2007 9:14 pm  
Anonymous Anonymous said...

Lamento muito a morte do vosso cão. Sei quanto dói perder assim um amigo... tenha ele quantas patas tiver...
Há no Universo algo mais egoísta que o amor?....
Beijo.

10/02/2007 3:18 pm  
Blogger Eva Lima said...

Assisti assim, impotente, à morte lenta da nossa cadela. Nossa companheira durante 11 anos. Ao fim dum mês de sofrimento, perda de pelo, emagrecimento,etc, etc, não aguentei e, contra a vontade de toda a família, fui levá-la à veterinária para a abater. Segurei-lhe a cabeça até ao sono final.

10/02/2007 3:44 pm  
Blogger anamoris said...

Sei muito bem o que isso é. O Gastão morreu há mais de um anos. E tivemos esse mesmo dilema durante mais de um mês, mas o meu marido depois tomou ele sozinho a decisão. Só ele sabe o que lhe custou...Até hoje nunca falou sobre o assunto.
A falta do Gastão, o meu anjo de cão, é para o resto da vida, ainda hoje oiço muitas vezes as patas dele no mosaico do hall.
Coragem Beijos

10/02/2007 5:18 pm  
Blogger Texuga said...

Ainda hoje sinto o focinho do meu amigo na minha mão, e o peso quando nos deixou, o descontrair do corpo dele, a paz. Foi um momento de tanta dor que nós (eu e a minha mãe) nunca esqueceremos. Chamava-se Django, tinha 12 anos e a teimosia de um boxer que, amado, não queria partir. Tinha artroses e tumores mas lutava, meses, talvez mais de um ano. Foi muito dificil. Mas era isso ou submetê-lo à dor de morrer numa mesa de cirurgia. Foi a opção mais altruísta que tomei na vida. Orgulho-me dela, mas nunca o esquecerei. Foi no dia 22 de Dezembro de 2005. Um beijo para aqueles que sentem este momento como eu.

10/02/2007 6:15 pm  
Blogger Ana said...

Desculpe a "invasão" mas não posso deixar comentar este post.
Eu tive uma grande Amiga, a minha Beatriz. Era uma confidente, a minha companhia de sofá, as minhas boas vindas a casa, a ocupante mais assidua do meu colo, o olhar mais sincero que já encontrei apesar de ser uma gata.
Viveu entre mimo e conforto, entre algumas zaragatas próprias dos gatitos e dedicou-nos quase 10 anos da sua vida até ao dia em que começou a manifestar sinais de falta de auto estima (um terror nos gatos) e o veterinario nos disse que ela tinha um cancro, do tipo 1 num milhão. Não havia sequer estudos na medicina humana para a doença que ela tinha... Viveu até ao dia em que deixou de comer, beber e que cada movimento seu representava um gemido horrivel, um sofrimento atroz.
Tomei a decisão quando ela olhou para mim e tentou fugir para morrer longe... Não conseguiu e em vez de fugir destruiu-se mais um pouco...
Decidi que ela descansasse porque não conseguia ver a minha Amiga a sofrer, sem uma unica esperança de vida...
Foi a decisão mais dificil da minha vida... até hoje não sei como consegui... Por isso entendo bem este "egoismo" do Amor...
Infelizmente não consegui assistir ao ultimo suspiro da minha Amiga... Despedi-me dela e pedi à minha irmã que a acompanhasse...
Ela foi-se embora naquele dia, mas até hoje não consigo substitui-la, não consigo deixar de me comover quando vejo as fotos, quando falo dela ou quando percebo que não sou doida e vejo que há pessoas que sentem aquilo que eu senti e sinto pela minha Amiga...
Um abraço sentido, apesar de não a conhecer.
Eu sei que lá no "céu dos animais" eles ficam a guardar os seus doninhos!
Ana

10/02/2007 10:15 pm  
Blogger Unknown said...

Também eu perdi um grande amigo... já lá vai mais de um ano...
Ele era quem mem via levantar todas as manhãs... quem esperava todas a noites... quem secava as minhas lágrimas quando chorava... quem se aninhava na minha cama quando eu estava doente...
Ao fim de 15 anos a viver no meio de muito amor também nenhum de nós tinha coragem para o mandar abater... em vez disso demos-lhe todos os medicamentos possíveis e imaginários para que não tivesse dores...
E ele partiu em paz enquanto dormia nos braços da minha mãe...

Até hoje choramos quando falamos dele, até hoje lembramo-nos constantemente de como ele era...
Agora a minha irmã comprou outro cão... mas ele nunca puderá substituir o meu fiel amigo...

Teremos sido egoistas? Talvez... mas foi demasiado doloroso vê-lo partir...

10/02/2007 11:51 pm  
Blogger Rosa Maria said...

Não consegui resistir e também aqui venho deixar a minha opinião.
A minha cookie foi, durante 15 anos, a minha companhia, a minha confidente, quem me aturava nos dias menos bons e eu sabia que ela estava sempre pronta para estar comigo, diria mesmo que era a minha sombra.
Tudo fiz para que ela ficasse mais algum tempo, eu dizia-lhe que ela me ía fazer muita falta... e faz!
Mas eu e o meu filho tivemos a coragem de lhe parar o sofrimento e é com imensa dor que ainda recordo como no dia 9 de Maio a fui entregar à veterinária.
Nós ficamos com a alma a doer mas conseguimos parar com as dores que ela sentia no corpo.

Rosa Maria

10/03/2007 12:31 am  
Blogger flee said...

Deixo um abraço apertado, fraterno e solidário.
Sei o que é perder esses amigos que escolhemos acolher e nos cativam para sempre de forma insubstituível. Sabemos que a vida deles é mais breve que a nossa mas nem queremos pensar na perda. ter de assumir o momento do adeus, da maior dor dentro de nós é escolher o momento em que se espeta a faca e é-se egoísta adiando o momento.
Imagina que Balzac estaria aí para apoiar o teu acto se pudesse. Força!

Pelos nossos amigos mal tratados e pelos que já partiram, dia 4 usarei, em solidariedade com o movimento criado, no pulso uma fita azul celeste e outra preta.

10/03/2007 1:00 am  
Blogger Andreia Azevedo Moreira said...

Todos com algo muito forte em comum. Esse grande amor. Quem não estabeleceu uma relação forte com um animal não nos compreende. Vidas mais pobres essas!

http://buddy31.blogspot.com/2007_07_01_archive.html

Andreia Moreira.

10/03/2007 12:34 pm  
Blogger Inca said...

não poderei deixar de comentar este post.O dia 15/04/05 foi o mais negro da minha vida, a minha Inca partiu, a minha linda pastora alemã apenas com 4 anos. Ainda hoje me pergunto se aquilo que fiz foi por mim ou por ela, eu tomei a decisão de a pôr a dormir, podia ter esperado mais uns dias, mas isso era prolongar o sofrimento diziam todos, mas o sofrimento de quem, dela? que estava doente ou de mim que não queria acreditar que ela estivesse mortalmente doente? não sei, palavra que não sei e ainda hoje penso muitas vezes se foi o melhor que fiz. apenas para lhe dizer que o seu sofrimento é legitimo, não foram cobardes nem amaram demasiado, apenas amaram e perderam um ser que amavam, e essa é a perda mais terrível que os humanos enfrentam.
um beijinho de solidariedade.

10/03/2007 2:05 pm  
Blogger Carlos said...

É egoísta sim.
Mas é tão bom quando somos importantes também para o que amamos e quando essa entidade nos demonstra que está muito melhor connosco do que sem nós.
O animal de que falas não foi amado: não haveria maneira de lhe tirarem ao menos as dores?
Quem ama não segura: liberta.
E se quem libertámos vier de novo é porque nos ama de volta!
Belíssimo texto *

10/06/2007 8:06 pm  
Blogger carla alexandra vendinha said...

obrigada a todos pelos coment�rios. O post n�o pretendia limitar-se ao afecto dirigido aos animais; mas ao afecto dirigido aos que gostamos. Neles incluo os animais porque aprendi desde sempre, que quando os trazemos para a familia, eles passam a fazer parte dela.
Obrigada por partilharem as vossas experi�ncias, pessoalmente agradou-me que se sentissem suficientemente confort�veis para o fazerem neste Blog.

E caro "man in charge", o animal de que falo foi amado, sim. Se n�o fosse n�o nos ter�amos dado ao inc�modo de nos sentirmos perturbados por tomar uma decis�o deste tipo. Sentiu dores porque os medicamentos j� n�o faziam qualquer efeito. E o veterin�rio foi chamado para lhe terminar com todo aquele sofrimento e n�o foi uma decis�o f�cil para quem fez o telefonema. Felizmente ou n�o, atrasou-se e chegou tarde demais.

10/06/2007 9:30 pm  
Blogger são branca said...

Não será o local mais adequado mas acabei de saber que há uma jovem aprendiz de psicóloga que, por imposição do senhorio - e com data muito breve marcada - precisa de encontrar um dono meigo para o seu cão. É filho de labradora e galgo, tem 3 anos e pesa cerca de 14 quilos. Nem sei ainda o contacto dela mas deixo o meu saobranca@gmail.com

10/10/2007 3:09 pm  
Anonymous Anonymous said...

o nosso amigo "Acosta" é um gigante de quatro patas (pesa 60 Kgs) lindo de morrer e muito doce como um cachorrinho, suporta tudo o nosso gigante, desde as traquinices do meu filho e sobrinho até aos ataques ferozes de um outro amigo que é do tamanho da sua cabeça!
fez sete anos o nosso amigo está a entar na velhice é um serra da estrela de pelo curto!

10/12/2007 9:49 pm  

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