Wednesday, May 31, 2006

HERE WE ARE...

A chegada a Portugal foi estranha.
Uma sensação de incómodo, de “não devia aqui estar”.
O funcionário do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras que carimba o passaporte da G. dá-me notícias de Timor: “Saquearam os ministérios na noite passada”. No avião mostraram imagens de Dili, na CNN. As ruas com tanques, as casas a arder. Um cenário de guerra. Alkatiri. Uma conferência de imprensa de que só apanhei o “thank you” final. Que irritação. Mas o que será que ele disse? Fez-me lembrar uma tira da Mafalda,aquela em que ela fica sem saber se o Donald morreu. Mas para quem vive em Timor, é mais do que sabido que as notícias quando produzidas pelos Australianos, não correspondem exactamente à verdade… O que me faz pensar: haverão muitos tanques em Dili? Será sempre o mesmo filmado em partes diferentes da cidade? Quantas casas estarão de facto a arder?
No avião uma senhora Timorense falava em cenas que tinha presenciado; armas a serem retiradas aos rebeldes em frente aos jornalistas Australianos e posteriormente devolvidas quando as câmaras eram desligadas, casas a serem destruídas sob o ar impávido dos soldados… a revolta do cidadão comum que não sente protecção.
O GB. manda-me uma mensagem com o relato em directo de um massacre de 25 rebeldes depois de estes se terem rendido, em frente ao City Café. Mortos por soldados Timorenses. Ou numa linguagem mais simples e muito mais dramática: mortos pelos próprios irmãos.

Em Bali recebi um SMS da minha mãe em tom “telegráfico” como só ela faz: “500 Portugueses em timor, 4 saíram. Se não tivesses a G. também ficarias”.
Ficar ou não, não foi um dilema para mim. Foi sair assim que senti que algo poderia acontecer. E só o Grande Arquitecto sabe o que me custou reunir a equipa e comunicar-lhes a minha retirada.”Por duas semanas” disse eu… E se não tivesse a G, teria ficado? Hipocritamente poderia dizer que sim. Mas a verdade é que não sei. Os agitadores políticos não me assustam. Já vivi situações semelhantes noutros países. O que me assusta é o criminoso comum, os delinquentes manipuláveis normalmente utilizados com fins políticos nestas situações.
A mesma senhora do avião falava em homens altos com uma compleição diferente da Timorense vistos a saírem de um dos armazéns saqueados e a entrarem num táxi, de mãos vazias. “Mercenários”, disse ela.
Uma coisa é certa: em Timor, neste momento, ninguém é tão bom quanto parece.
Outra coisa é certa: em Timor, neste momento, ninguém é tão mau quanto parece.
E mais uma coisa é certa: em Timor, neste momento, ninguém é o que parece.
E não há nada mais doloroso do que a queda de um mito.
E o que nenhum jornalista ainda captou foram as palavras que o povo murmura entre si: “Traidor! Traidor!” Porque nenhum jornalista quer ajudar a fazer cair o mito. Porque os homens, e os media em geral, precisam destas coisas – de Personagens que os ajudam a pintar quadros. Quadros daqueles que se vendem nas feiras; com o menino e a lágrima. E a esta hora alguém se vira e revira furioso lá no país do sol-nascente, porque esta historia do terramoto em Java, não estava nos planos e retira espaço nos telejornais…
E o Secretariado Geral ainda tão longe…
E as abóboras que reclamam atenção…

Thursday, May 25, 2006

HAPPY BIRTHDAY, JANA!

23!

TO WHOM IT MAY CONCERN (II)

a voces que estao preocupados e nao conseguem comunicar: estamos em Bali a caminho da Agencia de Viagens. Voltamos a casa, em Portugal ate as coisas ficarem bem. E em Portugal planeamos ir ao cinema quase todos os dias, atafulharmo-nos em pasteis de feijao na S. Silvestre, fazer as pazes com a maquina de costura e dar uso aos tecido balineses, passar as manhas com o latte em frente ao computador, nadar na piscina da vovo, brincar na casinha no jardim, dar banho a Maria e cortar-lhe o pelo. andar de bicicleta, beber agua da torneira, carregar no botao do autoclismo so para ouvir aquilo a funcionar,visitar os amigos na escola, pintar os cabelos brancos e dar beijos a muita gente...

mas todos os dias quando ficar escuro, vamos conversar as duas e a G. vai falar no tio verme que " tao kido sem barba", na tia Lita que parecia assustada, na Therese e no Greg, na lucimar e no Geraldinho que conta historias com vozes, na eliana que diz que levamos no coracao as pessoas de quem gostamos, de como o mar de baucau arde nos olhos e os meninos fazem xixi na piscina, da vizinha lolo que canta mal mal mal e a toda a hora e depois dormimos e no dia seguinte vamos fazer a mesma coisa...

Thursday, May 18, 2006

...AVALON

E gosto do trabalho
E o projecto começa a fazer sentido.
E a equipa começa a funcionar como equipa.
E em casa temos a melhor casa de banho do distrito de Baucau!
Mas acho que aconteceu aquilo que acontece nalgumas relações; um dia acorda-se olha-se para o lado e não se sente nada por quem lá está.
E isto é novo para mim.
Mas acho que está a acontecer.

E a estação das chuvas está a acabar e o verde esconde-se e a terra alaranja-se e as montanhas cobrem-se de uma tristeza que se pega à pele e não sai.

E a G. vai a uma escola onde nem o nome dos meninos aprende. Onde reza 3 vezes em 2 horas, onde decora o alfabeto sem saber para o que serve, onde nunca fez um desenho e onde as aulas de ginástica se reduzem a 30 crianças em uniforme desportivo a lavar, esfregar, arrancar ervas e limpar como se fossem crescidos, a sala onde lhes deveria ser dado espaço para expressarem criatividade, o recreio onde deveriam brincar com supervisão durante mais de 10 minutos.

O meu sentido de responsabilidade como mãe, fez-me retirá-la apressadamente de Timor antes que algo acontecesse e a saída dela ficasse sujeita ás limitações do passaporte que possui. O meu sentido de responsabilidade como mãe fez-me retirá-la apressadamente de Timor quando ao cair partiu um dentinho. E isto quer dizer o quê? Que cada vez que o meu sentido de responsabilidade desperta eu retiro-a a correr do país?

A FRETILIN está reunida em congresso. E sem surpresas, a montanha irá parir um rato. E sem surpresas os conflitos não serão solucionados mas adiados. E sem surpresas uma nação inteira continuará a viver numa bolha fugindo para a montanha e paralisando as instituições, a economia, de cada vez que ela ameaçar rebentar. E nesse momento, o meu sentido de responsabilidade como mãe, far-me-á pegar na minha filha e retirá-la do país.
Mais uma vez.

Timor para mim nunca foi um encantamento. Nunca foi idealizado romanticamente. Foi sempre uma forte determinação. Em Portugal, o trabalho com a comunidade, em especial com os “fence jumpers”, fez-me manter os pés na realidade - através deles tinha acesso ás fotos da resistência onde toda a ilusão de romantismo da luta era rapidamente apagada. Mas aprendi a respeitar o povo e contribui da melhor maneira que podia para a luta. E envergonhadamente confesso que nunca acreditei na independência. Nunca a achei possível tão rapidamente. Nunca antes da do Sahara Ocidental. E fiquei emocionada quando ela aconteceu e chorei de pavor ao ver o país ser destruído e senti uma angústia terrível quando pisei pela primeira vez dili e os pulmões se encheram de um cheiro a queimado que ainda hoje sinto.

Mas este não é o sítio onde a minha filha pode crescer. E por muito que me custe a aceitar, esta é a terra dela, mas a terra dela ainda não está preparada para a cuidar. E se eu estou disposta a sujeitar-me ao rigor do clima, ao pavor da violência, ás condições sanitárias básicas, ao dengue, á giardia, à malária, ás picadas de escorpião, ás cobras escondidas debaixo da cama, por acreditar que de alguma forma posso contribuir para o desenvolvimento deste país, que direito tenho eu de impor isso a ela?

Para a semana voltamos, mas sinto que nada vai voltar a ser como dantes.
Porque hoje aconteceu aquilo que acontece nalgumas relações; acordei, olhei para o lado e não senti nada por quem lá estava.
E custa mais do que perder um amor.

'e perder um projecto de vida.

E a FRETILIN continua reunida em congresso.
Sem surpresas.

Sunday, May 14, 2006

HELLO MISSUS!


Por aqui diz-se que o governo Português irá enviar cerca de 175 GNR para ajudar a controlar a situação em Timor.

Eu fiz as minhas contas; se cada um deles tomar conta de pelo menos 5 (o que fica muito aquém das reais capacidades que lhes são reconhecidas por todos os que tivemos oportunidade de os ver a exercer actividade), serão no mínimo 875 Australianas a louvar a Pátria Portuguesa. Se em cada 100 uma delas escrever um livro sobre o assunto serão pelo menos mais 7 best sellers que enriquecerão as bancas por toda a Aussieland com tiradas de génio no género: “Os homens portugueses são como as sobremesas, podemos olhá-los, mas se lhes tocarmos fazem-nos mal”.

Isto sim, é literatura.

Saturday, May 13, 2006

HOW TO KEEP YOUR BUSINESS RUNNING (OR NOT) IN BALI

Aprenda 6 frases fundamentais :

Alllôooo!
Where are you froooooom?~
How many days in Bali?
Where do you stay?

(se fôr um casal)
Honeymoon?

(se mostrarem interesse nalgum artigo, peça 4 vezes mais e remate com:)
How much do you offer?

Extra:
se o potencial comprador for uma mulher portuguesa acompanhada por uma criança dois tons acima mais morena e não lhe apetecer mesmo mesmo mas mesmo nada vender-lhe o que quer que seja, pergunte à criança:
Where is papá?

Tuesday, May 09, 2006

VAMOS EVACUAR!

E nao 'e uma questao intestinal...
Depois de muita consulta a amigos e gente entendida, resolvemos ir para Bali e esperar ou que a situacao acalme ou que nos percamos a paciencia.
Dado a G. nao ter passaporte portugues, o medo de que numa situacao de emergencia vistos e afins sejam exigidos impedindo-a de entrar num aviao, assusta-me.
Por isso, ca vamos nos, uma semana depois, regressar a Indonesia, cruzando os dedos para que a 18 se entendam no congresso, a 20 se mostrem contentes e que pouca gente acompanhe o corpo do policia morto ontem, na ultima viagem que fara para a aldeia onde nasceu.
E nos vamos para bali...

Wednesday, May 03, 2006

WEDDING BELLS!


Esta querida casou-se!
Felicidades C.!
E H., claro!
E A, pois então!







PS: Entao Pepe?

A METTER OF ESTIME. SELF- ESTIME!

Episodio 1 - Fui convidada para a cerimónia de encerramento de um dos Projectos do PNUD. Depois da longa espera pelos Ema botes que vinham de helicóptero de Dili, a coisa começa e na verdade é praticamente interessante. No final há almoço. Mas antes do almoço, e como manda a tradição por estes lados, parte-se o bolo. Não há cerimónia sem corte de bolo. Qualquer que ela seja. Aliás, eu dei por mim a encomendar um em formato de coração todo em branco e com flores plásticas em tons verdes e umas letras rebuscadas a dizer "haburas educasaun", para a última reunião importante que tivemos lá no escritório. Foi um sucesso! E acompanhámo-lo com champanhe à temperatura ambiente, ou seja mais ou menos 38 graus porque aqui luz, só 6horas por dia. Água, só uma vez por semana. Na segunda cidade do país.6 anos depois de conquistada a Independência…
Mas o bolo é cortado. Debicado elegantemente e o restante da fatia pousado, assim como quem não quer a coisa, embrulhado no guardanapo. A G. foi comigo e exigiu a presença da então ama (que entretanto já fugiu cá de casa). Passou a cerimónia ao colo dela. Arrastou-a por todo o lado. Feliz. A certa altura repara no bolo e fixa os olhos nele. Foi amor à primeira vista. Uma das senhoras presentes (Timorense) segue-lhe o olhar e pergunta "Queres bolo?." E pega-lhe na mão. A ama segue-a. E eu, sem saber bem porquê resolvo ir atrás também. Ao chegar perto da mesa vejo um pedaço amassado de bolo já debicado por um dos Internacionais convidados, a ser entregue à minha filha. E berro: "Não!" Outra mulher rapidamente se apercebe do engano. Aquela menina era minha e não filha da ama. E com uma subtileza admirável, retira-lhe o bolo da mão e substitui-o por uma fatia nova enquanto tenta fazer conversa de ocasião comigo em Fataluk!! E eu fico ali quieta, zangada, gelada. Triste. Acima de tudo triste. A pensar: que raios de mulheres são estas que não julgam as suas próprias crianças dignas, em dia de festa, de uma fatia limpa e intacta de bolo? Que raios de mulheres são estas que tendo 12kg de um bolo seco, intragável, que ninguém vai conseguir comer, pegam numa criança pela mão e lhe entregam o resto amassado e rejeitado deixado por um estrangeiro de pele leitosa e mãos transpiradas? Que raios de mulheres são estas?
Fui-me embora. Não almocei…

Episodio 2 - Estaciono o carro na beira da estrada. Falta ainda uma hora de viagem para chegarmos a casa. Mas este é o sítio onde quer se tenha sede quer não, eu obrigatoriamente paro - habituada aos rituais do A., que aqui sempre se benze e molha a cabeça na nascente vigiada pelo Santo António. O homem tem tanta fé no Santo, que eu, em desespero, desencantei uma medalha em Dili, supostamente benzida em Fátima (pelo menos paga como tal) para ver se o dito o protege de tanta asneira que faz no trabalho.
Eles aproximam-se em grupo; apercebem-se que há uma criança no carro. Vão-se chegando, vão-se chegando e param subitamente, também em grupo, boquiabertos, quando se apercebem que a menina a dormir na cadeirinha é igual a eles e murmuram: "Timoruan, Timoruan" , como se de lepra se tratasse! E ficam ali boquiabertos. Confusos. Profundamente confusos…

GROWING PAINS (as minhas, claro!)




A G. acorda meio assustada, meio aflita vira-se para mim e diz: " Mamã, e se o D. arranja outra morena?!!"


Adivinha-se uma puberdade complexa!