HERE WE ARE...
A chegada a Portugal foi estranha.
Uma sensação de incómodo, de “não devia aqui estar”.
O funcionário do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras que carimba o passaporte da G. dá-me notícias de Timor: “Saquearam os ministérios na noite passada”. No avião mostraram imagens de Dili, na CNN. As ruas com tanques, as casas a arder. Um cenário de guerra. Alkatiri. Uma conferência de imprensa de que só apanhei o “thank you” final. Que irritação. Mas o que será que ele disse? Fez-me lembrar uma tira da Mafalda,aquela em que ela fica sem saber se o Donald morreu. Mas para quem vive em Timor, é mais do que sabido que as notícias quando produzidas pelos Australianos, não correspondem exactamente à verdade… O que me faz pensar: haverão muitos tanques em Dili? Será sempre o mesmo filmado em partes diferentes da cidade? Quantas casas estarão de facto a arder?
No avião uma senhora Timorense falava em cenas que tinha presenciado; armas a serem retiradas aos rebeldes em frente aos jornalistas Australianos e posteriormente devolvidas quando as câmaras eram desligadas, casas a serem destruídas sob o ar impávido dos soldados… a revolta do cidadão comum que não sente protecção.
O GB. manda-me uma mensagem com o relato em directo de um massacre de 25 rebeldes depois de estes se terem rendido, em frente ao City Café. Mortos por soldados Timorenses. Ou numa linguagem mais simples e muito mais dramática: mortos pelos próprios irmãos.
Em Bali recebi um SMS da minha mãe em tom “telegráfico” como só ela faz: “500 Portugueses em timor, 4 saíram. Se não tivesses a G. também ficarias”.
Ficar ou não, não foi um dilema para mim. Foi sair assim que senti que algo poderia acontecer. E só o Grande Arquitecto sabe o que me custou reunir a equipa e comunicar-lhes a minha retirada.”Por duas semanas” disse eu… E se não tivesse a G, teria ficado? Hipocritamente poderia dizer que sim. Mas a verdade é que não sei. Os agitadores políticos não me assustam. Já vivi situações semelhantes noutros países. O que me assusta é o criminoso comum, os delinquentes manipuláveis normalmente utilizados com fins políticos nestas situações.
A mesma senhora do avião falava em homens altos com uma compleição diferente da Timorense vistos a saírem de um dos armazéns saqueados e a entrarem num táxi, de mãos vazias. “Mercenários”, disse ela.
Uma coisa é certa: em Timor, neste momento, ninguém é tão bom quanto parece.
Outra coisa é certa: em Timor, neste momento, ninguém é tão mau quanto parece.
E mais uma coisa é certa: em Timor, neste momento, ninguém é o que parece.
E não há nada mais doloroso do que a queda de um mito.
E o que nenhum jornalista ainda captou foram as palavras que o povo murmura entre si: “Traidor! Traidor!” Porque nenhum jornalista quer ajudar a fazer cair o mito. Porque os homens, e os media em geral, precisam destas coisas – de Personagens que os ajudam a pintar quadros. Quadros daqueles que se vendem nas feiras; com o menino e a lágrima. E a esta hora alguém se vira e revira furioso lá no país do sol-nascente, porque esta historia do terramoto em Java, não estava nos planos e retira espaço nos telejornais…
E o Secretariado Geral ainda tão longe…
E as abóboras que reclamam atenção…
4 Comments:
O ouro negro move montanhas...
http://maistopas.blogspot.com/
O ouro negro move montanhas...
http://maistopas.blogspot.com/
não pude estar a par da vossa situação e estive lendo os post anteriores e acho que foi a decisão possível, e espero que as coisas em Timor acalmem o + rápido que for possível e que vocês possam regressar.
Desejo que os próximo tempos aqui em Portugal sejam Bons para vós!
fernando
É triste ver/ouvir as notícias de Timor.
Sê bem vinda!
1 beijo para as duas.
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