A METTER OF ESTIME. SELF- ESTIME!
Episodio 1 - Fui convidada para a cerimónia de encerramento de um dos Projectos do PNUD. Depois da longa espera pelos Ema botes que vinham de helicóptero de Dili, a coisa começa e na verdade é praticamente interessante. No final há almoço. Mas antes do almoço, e como manda a tradição por estes lados, parte-se o bolo. Não há cerimónia sem corte de bolo. Qualquer que ela seja. Aliás, eu dei por mim a encomendar um em formato de coração todo em branco e com flores plásticas em tons verdes e umas letras rebuscadas a dizer "haburas educasaun", para a última reunião importante que tivemos lá no escritório. Foi um sucesso! E acompanhámo-lo com champanhe à temperatura ambiente, ou seja mais ou menos 38 graus porque aqui luz, só 6horas por dia. Água, só uma vez por semana. Na segunda cidade do país.6 anos depois de conquistada a Independência…
Mas o bolo é cortado. Debicado elegantemente e o restante da fatia pousado, assim como quem não quer a coisa, embrulhado no guardanapo. A G. foi comigo e exigiu a presença da então ama (que entretanto já fugiu cá de casa). Passou a cerimónia ao colo dela. Arrastou-a por todo o lado. Feliz. A certa altura repara no bolo e fixa os olhos nele. Foi amor à primeira vista. Uma das senhoras presentes (Timorense) segue-lhe o olhar e pergunta "Queres bolo?." E pega-lhe na mão. A ama segue-a. E eu, sem saber bem porquê resolvo ir atrás também. Ao chegar perto da mesa vejo um pedaço amassado de bolo já debicado por um dos Internacionais convidados, a ser entregue à minha filha. E berro: "Não!" Outra mulher rapidamente se apercebe do engano. Aquela menina era minha e não filha da ama. E com uma subtileza admirável, retira-lhe o bolo da mão e substitui-o por uma fatia nova enquanto tenta fazer conversa de ocasião comigo em Fataluk!! E eu fico ali quieta, zangada, gelada. Triste. Acima de tudo triste. A pensar: que raios de mulheres são estas que não julgam as suas próprias crianças dignas, em dia de festa, de uma fatia limpa e intacta de bolo? Que raios de mulheres são estas que tendo 12kg de um bolo seco, intragável, que ninguém vai conseguir comer, pegam numa criança pela mão e lhe entregam o resto amassado e rejeitado deixado por um estrangeiro de pele leitosa e mãos transpiradas? Que raios de mulheres são estas?
Fui-me embora. Não almocei…
Episodio 2 - Estaciono o carro na beira da estrada. Falta ainda uma hora de viagem para chegarmos a casa. Mas este é o sítio onde quer se tenha sede quer não, eu obrigatoriamente paro - habituada aos rituais do A., que aqui sempre se benze e molha a cabeça na nascente vigiada pelo Santo António. O homem tem tanta fé no Santo, que eu, em desespero, desencantei uma medalha em Dili, supostamente benzida em Fátima (pelo menos paga como tal) para ver se o dito o protege de tanta asneira que faz no trabalho.
Eles aproximam-se em grupo; apercebem-se que há uma criança no carro. Vão-se chegando, vão-se chegando e param subitamente, também em grupo, boquiabertos, quando se apercebem que a menina a dormir na cadeirinha é igual a eles e murmuram: "Timoruan, Timoruan" , como se de lepra se tratasse! E ficam ali boquiabertos. Confusos. Profundamente confusos…
1 Comments:
Ola Alexandra,
As suas palavras fizeram-me vir as lagrimas aos olhos; fiquei triste...pelas criancas e pelos adultos. E lembrei-me de outras situacoes em que o culto da "diferenca institucionalizada" esta sempre tao presente, mesmo na nossa terra.
PS- Estive a ouvir noticias horriveis na RTP Internacional (eu estou na Africa do Sul), espero que esteja tudo bem convosco.
Beijos,
Sonia Luisa
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