BLOODY SUNDAY... PART III
Domingo.
Estão os peitos de frango a ganhar uma cor linda no tacho e novamente o “Senhora, Senhora”. Parece que a paciente está com fome. O lume é reduzido e pegamos no carro que se enche de Termus, panelas, naperons e afins, 4 crianças, 5 adultos e lá voltamos ao hospital.
E regresso a voar e termino o caril e ponho a mesa, e despejo vinho do porto sobre os paus de canela das maçãs no forno e a casa cheira a Natal. Sinto-me uma personagem de um dos livros da Colecção Laura Alves. E depois chega a T. e oferece-me uma garrafa de vinho tinto e diz: “Escolhi um Português. Estou certa de que será bom”. É um Camilo Alves… pelo menos não vem em pacote… Por sorte não tenho saca rolhas e o G. ao chegar parte o gargalo ao tentar abrir a garrafa. E assim foi poupada a pobre Australiana, à árdua experiência de ter que beber o vinho que amorosamente comprou. E a comida estava deliciosa. E no hospital a filha da D.Amélia recebia 10 dólares de sangue rodeada pela família que dormiu aos pés da cama.
E os amigos vão embora.
E finalmente tenho tempo para um xixi. E sentada na sanita tenho a nítida sensação de não estar só. E passados uns minutos ouço ruídos. E vou até á janela do hall de entrada (já composta e de rabo limpo), e vejo pendurado no telhado a mancha branca de uma camisa.
Outra vez!
Abro a cortina e berro-lhe: “Ouça lá. Mas isto agora é todas as semanas? Mas a minha vida é isto? Mas a sua vida é isto? O que é que quer que eu faça? Que lhe diga que estou com medo? Que chamo a policia? Vá embora. Vá-se já embora. Vá embora JÁ”
E ele foi.
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