BLOODY SUNDAY... PART II
Domingo.
Para combater o tédio fazemos trabalhos manuais e eu decido oficializar a minha derrota perante a porta colada com gelo do congelador – e carrego no botão do defrost. Dois telefonemas e consigo ajuda para me livrar dos peitos de frango. Hoje fazemos caril. Temos convidados para jantar.
A chorar com a cebola na mão e a G. a furar-me os olhos porque insiste em limpar-mos, corro para a porta onde uns gritos aflitos de “Senhora, Senhora” me chamam a atenção. A D. Amélia e mais 3 mulheres. Uma está dobrada sobre o próprio corpo e tem a pele num tom cinza. É a filha. Está grávida de 3 meses e sangra há 4 dias. Vamos para o hospital. Ninguém. Faço uns telefonemas. Está tudo de férias. E ela deita-se numa maca no bloco da maternidade, onde tudo é menos sujo. Onde quase não há odores. Mas e o médico, não há um médico? “Está a cortar mulheres para lhes tirar os bebés” dizem-me. Em Portugal chamamos-lhe cesariana. E passados uns momentos chega um bebé nos braços da enfermeira. Atravessou todo o pátio do hospital, passou pelos tuberculosos, pelos leprosos, pela zona das infecto-contagiosas que não estão separadas e chegou ao pavilhão da maternidade. E se sobreviveu a isto, já deu provas de que merece mesmo ficar deste lado. E eu pego naquele embrulhinho ao colo. Nunca tinha pegado num recém-nascido. “Vamos levá-lo, G.?” “És completamente tonta, mamã.”, e vira-me as costas… A puberdade vai ser complicada… Para mim, claro…
Depois de deixar os 10 dólares para comprar sangue, vamos embora.
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