MATEBIAN
Aos pés do Matebian, sobre um pequeno monte antes de se chegar à escola, está a sepultura do Sr.José. No fim da cerimónia e antes de partirmos, paramos lá. Não há areia, mas terra e pedra, e a família colocou uma cruz enorme e bonita esculpida em madeira com o nome e a data em que ele foi para a montanha. Estão 3 jarras com flores artificiais caídas sobre a sepultura e arranjos de flores secas e panos pretos. Os panos pretos foram usados por familiares mais ou menos distantes durante três meses – nas mangas, ao peito, ao pescoço – ao fim de 3meses reúnem-se no cemitério e colocam-nos sobre a sepultura, depois come-se e bebe-se. Os convidados deverão entregar envelopes com dinheiro à família. “Para velas”-dirão. Ao fim de 1 ano, os familiares próximos retirarão o luto e depositarão os panos negros que usaram sobre a sepultura. Nesse dia faz-se uma fogueira e todos os panos são queimados. Ali mesmo, sobre a sepultura. E depois a família passará o dia a construir uma estrutura em cimento tão grandiosa quanto as suas posses o permitirem. E depois come-se e bebe-se.
O Padre Tomás com a delicadeza que o caracteriza, murmura uma oração sem a impor. E ao voltar-se para regressar ao carro, toca na terra e diz “Adeus, Mestre”. E os olhos ardem-me quando penso no que este dia significaria para o Sr.José. Ele faria um discurso – porque eu iria obrigá-lo – diria piadas sobre o atraso do padre Filipino, comentários sarcásticos sobre a ausência do Superintendente Rodolfo, com quem andou na escola, trataria o Liurai por Excelência apesar de ter crescido com ele e estaria nervoso nervoso com receio de uma falha no programa.
Mas o Sr.José não está.
E a escola foi acabada. E a comunidade reuniu-se e celebrou-a e celebrou-o.
Porque como dizia o J. depois de anos e anos em Madagáscar, só morremos quando ninguém se lembra de nós e há muita gente que caminha e respira e vê e ouve e não sabe que está morta – porque é a memória que os outros têm de nós que nos mantém vivos.
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