SENHOR JOSÉ
Todos os dias me ligava para Bali e me pedia para não voltar. E eu brincava: " O sr está-me a inventar uma guerra só para me ficar com o trabalho" Fazia-me análises sérias da situação e cada comentário era como uma premonição. Foi a ele que ouvi pela primeira vez num sussurro de tristeza: "Traidor!"
Quando saí deixei-lhe tudo nas mãos e insisti: "Agora é o chefe. O Sr. é o chefe". e ele olhou-me nos olhos e disse-me "Mas vai voltar. Tem que voltar" . E seguiram-se os telefonemas diários na voz calma e no português inseguro por o querer dizer perfeito.
Ontem caiu no escritório junto à mesa pequena onde cuidava da reabilitação das escolas da diocese de Baucau.
Amanhã vai a enterrar na aldeia que o viu nascer e onde com timidez pediu que fosse incluida a recuperação da escola local. Sonhava poder também equipá-la.
Se lhe olharem para o corpo, não vão ver balas de Dili.
Mas elas estão lá.
3 Comments:
Já tinha passado por aqui sem ter guardado o endereço, hoje reedescobri-o e voltei.
Lamento muito a perda.
Acho a sua filha linda e as fotos fantásticas... Vou continuar a passear por aqui!
Alexandra
fico contente por saber que estão bem, apesar das contrariedades.
um grande beijinho.
Choro a dor da perda de um sonho... imagino como te sentes!...
Há uns dias partiu-se o cristal que me mostrava o mundo com as cores do arco-íris... vejo tudo a preto e branco. Mais nítido, mais duro... cheio de sorrisos tristes.
Estou egoísticamente feliz por vos saber por cá... longe de tanta dor... (mas sei que uma parte do teu coração ficou por lá!...)
Cuida bem de ti e da G.
Beijos,
Céu
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