BUBUHA
O homem entrou no meu escritório a medo, torcendo um boné nas mãos e falando baixinho. Achei que não o conhecia. Ao levantar-me para o cumprimentar tropecei num cabo e reparei nos sapatos dele. Nunca tinha visto uns sapatos tão velhos. Por dentro umas meias grossas, nas pernas uma fazenda forte, grossa, áspera. Uma camisa florida triste com gola coçada. Por entre os murmúrios distingo a palavra Bubuha e reconheço-o como sendo o professor de lá. Atrás vejo dois olhitos pequenos que espreitam e quando se cruzam com os meus escondem-se. Pergunto se o menino veio com ele. Que sim, e depois noto que ficou receoso de isso me desagradar.
Bubuha fica longe, no sub distrito de Baguia. Quando chove fica isolada e por isso construímos esta escola lá. 4 paredes com 3 divisórias. Chão em cimento, meias paredes, telhado em zinco. Em Bubuha há 6 mesinhas desconjuntadas para 60 crianças. Este senhor veio de lá até aqui pagando o seu próprio transporte – 3 horas de viagem pela montanha. Este senhor juntamente com outra senhora ensina 60 crianças e não é pago pelo Governo, nem pela Igreja. É professor voluntário. Um professor voluntário trabalha para a sua comunidade e é pago por ela. Raramente é pago em dinheiro e raramente é pago regularmente. Meio saco de arroz… um quarto de saco de arroz…
Em Bubuha existe um pedaço de um quadro preto do tempo Indonésio, onde o professor escreve. Com muita cerimónia e cuidado pergunta-me sobre a possibilidade de arranjar equipamento escolar. “Só mesas e cadeiras”- diz. “E se se pudesse ter sentina…” acrescenta. Os olhitos pequeninos continuam escondidos atrás dele. Eu trato-o por Sr. Professor no inicio e no fim de cada frase que digo. Digo-lhe que não me esqueci que me pediu um dicionário e remexo desesperadamente no conteúdo da minha estante e encontro uma gramática usada e o dicionário do Sr.José. Entrego-lhos. E falo-lhe de valores e estratégias de financiamento e ele dá a opinião e bebe o café dele e fala e eu digo "Ah sim Sr. Professor, não sabia Sr. Professor" e os olhitos pequeninos começam a aparecer. Já não se vê apenas um. Já se vêem os dois. E uma mãozita surge do nada e apoia-se no ombro do pai e olha-me directamente. E o narizito levanta-se no ar e as costas endireitam-se. E todo o corpinho parece dizer "sim, sim este que te está a ensinar coisas é o MEU pai". E terminamos a conversa e eu agradeço-lhe da mesma forma com que ele me abordou no inicio - com muita cerimonia e cuidado. E ele parte sem promessas, mas pela mão leva um menino vaidoso vaidoso do seu pai. E não ha nada mais fantástico do que olharmos para o pai de camisa triste, e senti-lo grande grande...
2 Comments:
... e eu estou muito, muito vaidosa da minha amiga - não deixes nunca de ser assim tão especial! Obrigada por partilhares este texto tão lindo.
Céu
e gente axim grande faz-nos xentir ainda mais pikininos...
espero k o sr Profexor tenha tido akilo k pediu...gostei do teu blogue, faz-m bem ler estes exemplos d humanidade, é inspirador!
bjokas
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