INFANTILMENTE

Hoje falei ao telefone com uma amiga daquelas que nos conhece desde crianças, com quem andámos na escola, com quem crescemos e de quem a certa altura nos separámos.

Com subsequentes pequenos periodos de aproximação e novas separações.

Hoje falei com ela e terminei o telefonema com uma energia diferente. Estava excitada, como se tivesse recebido uma notícia boa e mentalmente criei uma banda sonora para o momento (note to self: deixar de assistir ás reposições da Ally McBeal ). E a música era de Sergio Godinho. E Sergio Godinho transportou-me aos fins de tarde tropicais em minha casa, quando o GT chegava de Gleno e dizia "Esta casa é Sergio". E subitamente apercebi-me do quanto preciso de pessoas e de como as minhas melhores memórias estão sempre associadas a gente e não propriamente a locais ou actos solitários. E lembrei-me também do dia em que a G. nasceu para mim. De como deixei o telefone tocar e tocar e tocar e não consegui atendê-lo - um acto egoísta de querer que aquele momento fosse só meu (e também o medo de que ao falar tudo desaparecesse - como acontece aos espiritos protectores que vivem nos quartos das crianças). Mas lembrei-me também que dias depois, quando o F. nos visitou e brincou com ela - fazendo-a sorrir pela primeira vez - eu senti que se tudo o que estava a viver era fantástico, tinha-se tornado mais fantástico ainda depois de partilhado. E aquela filha era ainda mais minha a partir do momento em que alguem lhe chamou de "tua filha".

Acho que arranjei uma resolução para o novo ano: vou deixar as pessoas gostarem de mim e não me incomodar nada nada com isso. E uma segunda resolução, vou deixar de gostar de algumas e também não me incomodar nada nada com isso...